Em um desses grandes momentos da vida que todos temos, fui parar no Japão. Para um fã de quadrinhos, é um paraíso – talvez maior até do que França, Bélgica e Estados Unidos. E, uma vez lá, fui parar em Hakone, pequenina cidade de 13 mil habitantes. No lindo hotel, quadros nas paredes homenageavam uma personagem de quadrinhos.

Qual personagem? Astro Boy, criação máxima de Osamu Tezuka? A valente Safiri, de “A Princesa e o Cavaleiro”? O valente Joe Kabuki, de “Ashita no Joe”?

Não: Moomin, da finlandesa Tove Jansson.

Fiquei surpreso, claro! Já havia visto uma loja só dela em Londres e homenagens a ela em Nova York. Mas até no Japão?

Sim, até lá. Nascida em Helsinque, Tove Jansson (1914-2001) é o maior nome dos quadrinhos da Finlândia.

Talvez não seja preciso dizer que ela é “só” finlandesa: quando nasceu, Helsinque estava ocupada pelo Império Russo. Além disso, pertence a uma minoria finlandesa cuja primeira língua é o sueco.

E talvez também não seja preciso chamar ela “só” de quadrinista. Tove também foi escritora, e lançou seis romances e cinco livros de contos voltados para o público adulto. Além disso, foram anos de pintora – teve uma fase impressionista em início de carreira e, depois, criou arte abstrata. Mais: publicou charges políticas durante a Segunda Guerra Mundial, criticando principalmente (mas não só) Hitler e Stalin.

O trabalho mais importante de Tove foi Moomin, lançado em 1945. Trata-se uma HQ voltada para o público infantil e estrelada por uma família (os Moomins) de configuração muito fofa, mas um pouco difícil de classificar. Parecem hipopótamos bípedes, brancos e sorridentes.

As histórias de Moomin miram as crianças, mas também encantam adultos. São leves, engraçadas, despreocupadas. Confusões divertidas, em resumo.

Os Moomins vivem aventuras a partir de pontos de partida como enchentes, cometas e até a descoberta de um chapéu mágico. Há espaço para até para um humor mais sutil, que as crianças não entendem tão bem quanto os adultos, como brincadeiras sobre o teatro e o gênero literário das memórias. Erudição e literatura também integram a cultura Moomin.

Há três grandes pontos turísticos na Finlândia que remetem a Moomin e sua autora. A capital, Helsinque, rebatizou um parque como Tove Jansson. Em Tampere fica o Muumimuseo  (o Museu Moomin). E na ilha de Kailo, na cidade de Naantali, fica o parque temático Moomin World.

O sucesso do personagem saiu dos livros na Finlândia e virou até um desenho animado… no Japão, o que explica os quadros que vi no hotel de Hakone.

Será exagero dizer que o sucesso de Tove, mais do que internacional, é interplanetário? Afinal, em 1995, um asteroide foi batizado Moomin. 😊

ps – Este post é o 13º de uma série chamada “Quadrinistas Eternos”. Na próxima terça será a vez de Winsor McCay. Já publicados:

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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