Cante a sua aldeia e você estará cantando sobre o mundo, certo? René Goscinny e Albert Uderzo falaram da França: de uma aldeia gaulesa que o Império Romano não conseguia conquistar. E, ao fazerem isso, conquistaram o mundo: a série “Asterix” foi traduzida para 111 línguas e já vendeu mais de 380 milhões de exemplares.

O roteirista René Goscinny (1926-77) nasceu em Paris, mas cresceu na Argentina. Em 1945, mudou-se para Nova York, onde ficou até 1951, quando voltou para a França.

E foi em 1951 que conheceu o artista e futuro parceiro Albert Uderzo (1927-2020). Juntos, eles foram criando personagens que misturavam humor e aventuras: Jehan Pistolet (1952), Luc Junior (1954), Bill Blanchart (1954, com um estilo bem mais realista que os demais) e Umpapá (1958).

O filho mais famoso da dupla nasceu em 29 de outubro de 1959, na página 20 da primeira edição da revista “Pilote”: Asterix, o gaulês irredutível.

Você já deve conhecer a história, mas vamos a um breve resumo. A França antiga (que ainda se chamava Gália) foi invadida e ocupada pelo todo poderoso Império Romano. Apenas uma aldeia resiste. Lideradas pelo baixinho e astuto Asterix e pelo enorme e hilário Obelix, os gauleses lutam turbinados por uma poção mágica criada pelo druida Panoramix.

Os roteiros de Asterix são hilários, e a arte, linda. Os personagens ilustrados por Uderzo são vivos, expressivos, caricatos e carismáticos. As tramas de Goscinny, além de espertas, permitem todo tipo de humor: piadas físicas, trocadilhos e críticas sociais.

As histórias de Asterix saiam a princípio na “Pilote”, e depois eram publicadas em álbuns. O ritmo da dupla era incrível: houve ano com três livros lançados, todos ótimos (e vendendo bem). Em 1966, “O Combate dos Chefes” saiu com tiragem de 600 mil exemplares; “Asterix Entre os Bretões” subiu para 900 mil; e “Asterix E os Normandos”, 1,2 milhão.

Goscinny era uma máquina de ideias, piadas e roteiros incríveis. No início dos anos 60, ele trabalhava com vários personagens ao mesmo tempo:

  • Lucky Luke, as aventuras bem-humoradas do cowboy mais rápido que a própria sombra, ilustradas pelo belga Morris
  • Iznogoud, tira de humor com Tabary
  • Valentin, também com Tabary
  • Pequeno Nicolas, quadrinho infantil ilustrado por Sempé
  • Dingodossiers, com arte de Gotlib

Goscinny morreu em 1977, aos 51 anos. Uderzo levou dois anos para se recuperar e terminar de ilustrar o último roteiro do parceiro (“Asterix Entre os Belgas”, lançado em 1979). Depois disso, sozinho, escreveu e ilustrou os oito álbuns seguintes do herói.

Com a aposentadoria de Uderzo, uma nova equipe de artistas assumiu o personagem: Jean-Yves Ferri (roteiro) e Didier Conrad (arte) já lançaram quatro álbuns, dois deles ainda inéditos no Brasil.

Juntos, Goscinny e Uderzo criaram a HQ europeia mais vendida de todos os tempos. Resumir o trabalho deles ao sucesso comercial é pouco. Pela qualidade do roteiro e da arte, são dois dos pilares que, até hoje, sustentam as histórias em quadrinhos mundiais. Cada livro deles vale a leitura, a releitura e, ouso dizer, um cantinho especial na coleção.

Goscinny e Uderzo são os dois únicos ingredientes na poção mágica que explica a qualidade das histórias de Asterix, o Gaulês.

ps – Este post é o nono de uma série chamada “Quadrinistas Eternos”. Na próxima terça será a vez do japonês Yoshihiro Tatsumi. Já publicados:

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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