O festival francês de quadrinhos de Angoulême, um dos mais tradicionais do mundo, anunciou ontem o vencedor do seu Grande Prêmio: o norte-americano Chris Ware.

A edição deste ano de Angoulême foi dividida em duas por conta da pandemia. A primeira “metade” dele aconteceu em janeiro e fevereiro, com eventos virtuais, exposições a céu aberto e o anúncio do prêmio de álbum do ano: “The Hunting Accident: A True Story of Crime and Poetry” , de David L. Carlson e Landis Blair. Ficou faltando o anúncio do Grande Prêmio.

Desde a primeira edição de Angoulême, em 1974, o Grande Prêmio é dedicado a um quadrinista de grande trajetória – uma premiação pelo conjunto da obra. O francês Albert Uderzo, o norte-americano Will Eisner e o japonês Katsuhiro Otomo estão entre os já premiados.

Na minha humilde opinião, o prêmio deste ano está em ótimas mãos. Para mim, Chris Ware é um dos 15 maiores quadrinistas do mundo em atividade. Só de Eisner Awards, o Oscar dos quadrinhos norte-americanos, ele já venceu 21 vezes, em categorias diferentes.

Suas histórias são lindas, envolventes e, não raramente, tristes. “Jimmy Corrigan – O menino mais esperto do mundo” mexeu tanto comigo que eu às vezes parava a leitura para só retomar no dia seguinte. Um soco no estômago.

E não é só no conteúdo que Chris Ware capricha. Ousa na forma, também. Seu “Building Stories” é uma obra monumental, uma exploração de até onde os quadrinhos podem ir.

“Building Stories” (“construindo histórias” ou “histórias do edifício”: as duas traduções servem) é uma caixa. Dentro da caixa, há 14 peças em formatos diferentes: pode ser uma revista de tamanho médio e 20 páginas, um pôster enorme, um livro de capa dura de 32 páginas, uma espécie de pôster horizontal desdobrável etc.

Cada peça tem histórias diferentes, todas com algo em comum: se passam dentro de um mesmo edifício. Até um inseto ganha histórias, que estão reunidas na pequena revista “Branford: The Best Bee in the World” (“Brandford: a melhor abelha do mundo”, em tradução livre). Tem história até na caixa na qual o livro vem dentro (imagem acima).

Tomara que esse prêmio estimule a publicação de mais obras de Chris Ware no Brasil. Seu talento enorme tem tudo para agradar o leitor mais exigente.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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