Esta HQ saiu há dois meses, mas demorei para ler (e, portanto, para comentar). Mas valeu a pena a espera: a holandesa Aimée de Jongh criou uma obra de qualidade com “A Sala de Espera da Europa: Uma história de refugiados” (ed. Conrad, tradução de Andressa Lelli).

A questão dos refugiados na Europa não é recente e parece ficar mais tensa a cada ano. O maltês Joe Sacco fez uma ótima reportagem em quadrinhos sobre o tema, mostrando o lado de europeus que reclamam das políticas imigratórias e dos próprios refugiados, claro. O resultado é uma das HQs do excelente “Reportagens” (Quadrinhos na Cia, tradução de Érico Assis), publicado por aqui há sete anos.

Aimée de Jongh também fez uma reportagem em quadrinhos, mas uma abordagem diferente. Ela não se focou no antes dos refugiados (por que saíram de seus países), mas em um “por enquanto” sem garantia nenhuma do “depois”. E 2017, ela foi a Kara Tepe, um campo de refugiados em na ilha de Lesbos (Grécia) para fazer um retrato de como eles viviam enquanto seus futuros eram decididos.

Há muito que nós, em nossos cotidianos, sequer imaginamos. Por exemplo, o efeito emocional em uma criança pequena que deixou para trás seu país e a maior parte de sua família para ficar por um longo período indefinido naqueles lares transitórios. A um dado momento, uma menininha pede colo para ela. Imediatamente, uma voluntária alerta:

– Algumas crianças sofrem de transtorno de apego reativo, o que as deixa supergrudentas com estranhos. Pode até parecer fofo, mas devo pedir que não dê colo, não importa o quanto peçam. Se todos derem colo, vão acabar com um visão distorcida do mundo pro qual terão que voltar.

Dadas essas condições, você daria colo?

Enfim, fica a sugestão de leitura desta sensível obra.

Abaixo, a sinopse da editora:

“Em outubro de 2017, a quadrinista Aimée de Jongh viajou até o campo de refugiados na ilha grega de Lesbos para fazer uma reportagem em quadrinhos sobre as condições lá. Câmeras não eram permitidas, mas papel e lápis, sim. Ela ficou lá ao lado de outros quadrinistas por sete dias. O que capturaram em suas HQs forneceram um estudo único sobre o ambiente e as condições dos refugiados. Pela primeira vez, não só as pessoas, mas suas moradas, seus lugares de descanso e de refeições, foram documentadas. Por meio dos quadrinhos, os leitores praticamente conseguem caminhar pelo campo de refugiados e viver as dificuldades do dia a dia deles. Mas, ainda que documental, a história de 25 páginas de Aimée é uma tocante narrativa que sensibiliza a todos para a situação de quem está a espera de entrar na Europa em busca de uma vida melhor.”

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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