O título pode afastar que não está familiarizado com super-heróis – nem todos sabem o que é o “Universo DC”. Os protagonistas não são famosos – Raio Negro, Katana, Questão? O nome do roteirista também não é exatamente atraente – John Ridley não é um veterano do meio, diferentemente de seu colega nesta obra, o ilustrador italiano Giuseppe Camuncoli, com longas passagens por “Homem-Aranha” e “Hellblazer”. Mas “A Outra História do Universo DC” é um livrão, dos melhores enredos envolvendo super-heróis que você verá este ano.

Publicada originalmente como uma minissérie em cinco capítulos, reunidos no Brasil em uma edição única de 250 páginas, “A Outra História” lança um olhar especial em heróis coadjuvantes da DC Comics. Superman, Batman, Flash, Lanterna Verde, Mulher-Maravilha, Aquaman, os mais famosos deste universo, são todos brancos e heterossexuais. O que acontece com os personagens que não se encaixam aí? Gays, negros, latinos, asiáticos?

Cada capítulo é dedicado a um herói: o negro Raio Negro; a negra e lésbica Trovoada; a latina lésbica Questão; a japonesa Katana; e o casal negro Guardião e Abelha, na única parte em que o protagonismo é compartilhado. Cada um deles tem, à sua maneira, suas próprias questões com o universo que os cerca. Superman de fato os representa? Por que é tão difícil ver um negro ou gay na Liga da Justiça? Os super-heróis se expressam o suficente diante de problemas como racismo e homofobia?

John Ridley só havia publicado três HQs antes desta obra, mas isso não significa que seja um escritor novato. Com longa passagem por TV e cinema (inclusive ganhando um Oscar por “12 Anos de Escravidão”), o premiado roteirista usou sua experiência para um profundo exercício de empatia: ele se colocou no lugar de seus personagens para expressar seus sentimentos mais profundos – medos, ansiedades, incongruências, inseguranças, defeitos. Ele não pega leve.

As histórias são profundas e detalhistas. As estradas destes personagens não foram homogêneas e simples: há acertos e erros, degraus e tropeços, injustiças que sofreram e cometeram. O lado humano destes heróis é incrível. E sabe aquelas perguntas de dois parágrafos atrás, sobre representatividade e respeito? Elas não têm respostas fáceis.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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