O título deste texto pode parecer difícil de entender para quem não acompanha o gênero de super-heróis. Mas é fácil de explicar: são histórias ambientadas em “realidades alternativas”. Ou seja, os artistas têm liberdade total para fazerem o que quiserem e isso não vai interferir nos títulos mensais dos personagens. Ou seja, a cronologia será preservada.

Um exemplo possível: e se o Batman fosse um brasileiro chamado Bruno Miller e defendesse a cidade paulista de Riacho Doce? Ou: e se o foguete kryptoniano caísse em Portugal e Kal-El virasse não o Superman, mas o Super-Homem, cuja identidade secreta é Eduardo, namorado da Míriam?

Enfim, tudo pode acontecer. Os artistas têm carta branca. Normalmente, os editores buscam os personagens mais populares, como Superman e Batman – nem todo mundo teria interesse em ler um elseworlds com o Leão Negro, por exemplo. Então, selecionei só cinco, que são as melhores para mim – mas as suas cinco melhores, claro, podem ser completamente diferentes.

1990 – “1889“, de Brian Augustyn e Mike Mignola
E se o Batman nascesse no século 19? “1889”, uma das primeiras graphic novels que segue a premissa de “elseworlds”, é uma interessante história de terror, com o Morcegão tentando descobrir a identidade de Jack, o Estripador. Destaque para a arte de um jovem então em início de carreira: Mike Mignola.

1991 – “Terror Sagrado“, de Alan Brennert e Norm Breyfogle
O que aconteceria se fanáticos religiosos dominassem o mundo? De que maneira eles lidariam com o surgimento de pessoas diferentes, como criaturas com poderes – o alienígena que voa não se tornaria o Superman, o atlante que respira embaixo d’água não viraria o heroico Aquaman. Um roteiro inteligente e uma arte incrível do grande Norm Breyfogle (é dele a ilustração que abre este texto).
Curiosidade: esta foi a primeira HQ da DC que saiu com o selo de “Elseworlds” na capa. Houve outras com o mesmo conceito, como a já citada “1889”, mas foi neste momento que a editora resolveu deixar claro, de saída, que eram histórias fora da cronologia.

1990 – “Digital Justice“, de Pepe Moreno
Um elseworlds revolucionário na forma em que foi criado: a primeira graphic novel completamente feita no computador. A história combina com a arte digital: no futuro, o neto do comissário Gordon vira um novo e mais tecnológico Batman, e seus desafios vão além de criminosos de carne e osso – há um poderoso vírus de computador que remete a um certo Palhaço do Crime…

1992 – “Chuva Rubra“, de Doug Moench e Kelley Jones
Esta obra remete a “1889” de duas maneiras: também é de terror e com um ilustrador acima da média brilhando em suas páginas, Kelley Jones. A premissa é simples: vampiros aparecem em Gotham City. O dilema: teria Batman cacife par enfrentar o poderoso Drácula?

1999 – “Nosferatu“, de Jean-Marc Lofficier, Randy Lofficier e Ted McKeever
Este volume integra uma divertida série de graphic novels que homenageia o cinema alemão da primeira metade do século 20. Primeiro, veio “Superman: Metrópolis”, inspirado no clássico de Fritz Lang. O volume que encerra é “Mulher-Maravilha: A Amazona Azul”, com homenagens a “O Anjo Azul” e “Dr. Mabuse”.
O volume do meio é este, estrelado pelo Batman: uma recriação do clássico do cinema mudo “Nosferatu”, de F. W. Murnau.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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