Se propusermos a cinco fãs da DC Comics que ordenem os intérpretes do Coringa, no cinema, em ordem de qualidade, é muito provável que a versão de Jared Leto em Esquadrão Suicida esteja lá embaixo em todas as listas – com boa vontade, em em pelo menos quatro.

Tatuada sem qualquer motivo aparente, inexplicavelmente presa em um estranho e constante estado de excitação sexual e, ademais, apenas muito irritante, essa versão ingrata do Príncipe Palhaço do Crime será resgatada por Zack Snyder na recriação de Liga da Justiça, para o serviço de streaming HBO Max.

Já escrevi aqui na coluna Quadrinho Falado sobre como o que se dizia ser um corte não finalizado do filme, lançado nos cinemas em 2017, se tornou, na verdade, uma refilmagem (e como isso foi um golpe de mestre). Agora, isso só fica ainda mais claro, já que nunca houve qualquer demanda ou espaço para o Coringa na história que Snyder (e, eventualmente, Joss Whedon) queriam contar lá atrás.

Zack Snyder’s Justice League, como o novo filme vai se chamar, realmente deve tentar abraçar e incorporar todo capricho dos obstinados fãs do trabalho (falho) do diretor à frente dos filmes da DC (e, de quebra, tentar remendar outros fracassos, como Esquadrão Suicida). Me parece claro que a adição de Leto ao elenco, junto com o retorno de Ben Affleck ao papel do Batman, têm o propósito não de ser relevante para a história (nem teria como, considerando o tanto de coisa que Snyder prometeu incorporar no filme), mas apenas capitalizar em cima do encontro entre duas versões de personagens icônicos que nunca trocaram duas palavras no cinema.

Pelo menos o Craque Neymar vai se divertir com a volta de Jared Leto

Para piorar, é impossível não lembrar como esse Coringa resgatou, lá atrás, o fetiche de muitos fãs sobre uma relação que é, em sua essência, perversa e abusiva: como Esquadrão Suicida teve sua história remendada pela Warner para fazer da dinâmica entre ele e Arlequina uma dinâmica amorosa, mais e mais memes, fotos de casais e fantasias para a família que colocavam ambos como algum tipo de meta de relacionamento pintaram pelas redes sociais (e circulam até hoje). É um erro feio de adaptação que precisou de um filme inteiro, Aves de Rapina, para ser minimamente corrigido.

Há algum lado bom nesse retorno? Talvez, se formos brindados com a visão desse insuportável Coringa sendo repetidamente socado na cara pelo Homem-Morcego de mais de 1,90m de Affleck. Mas é difícil não lembrar da insuportável campanha de marketing de Esquadrão Suicida, quando semanalmente os demais atores tinham de dar entrevistas narrando as supostas bizarrices que Leto fazia nos bastidores para “ficar no personagem” (envio de bichos mortos e até camisinhas para colegas de elenco), e deixar de revirar os olhos. Quando o filme estreou, vimos que resultado incrível esse “método” trouxe. Ou não.

Talvez o mundo fosse melhor se simplesmente deixássemos para a imaginação que o Coringa do Batffleck, esse sim um bom intérprete do personagem que sofreu pelos roteiros horríveis com os quais trabalhou, era na verdade o vivido por Joaquin Phoenix, só porque sim. Mas aí, também, se o mundo fosse melhor, não teríamos um filme horroroso da Liga da Justiça que precisa ser refeito para, quem sabe, prestar um pouco. Não teríamos sequer Batman vs. Superman. Talvez nem O Homem de Aço. Ou Watchmen… Acho que você me entendeu.

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