Spoiler: J.M. DeMatteis é um dos meus roteiristas favoritos. Escreve bem histórias de super-heróis, humor e até fábulas espirituais. Não me conformo que até hoje ele só ganhou um Eisner Awards, o Oscar norte-americano dos quadrinhos (favor inserir aqui um emoticon de “bravinho”).

Pois vou aproveitar o Duas Dicas Dominicais de hoje para sugerir dois relançamentos de obras dele. Não se trata de material inédito, mas as editoras conseguiram dar um tratamento impecável às duas histórias. O simpático, talentoso e polivalente DeMatteis merece.

Moonshadow”, de J.M. DeMatteis e Jon J. Muth

Filho de mãe solteira e hippie, o pré-adolescente Moonshadow não sabe exatamente quem foi seu pai nem como é o mundo lá fora. A vida, entretanto, acabo o arremessando, querendo ele ou não, a um caminho que pode levar a algumas (todas, quem sabe?) das muitas respostas que sempre procurou.

Esta fábula de amadurecimento abraça a fantasia de todas as maneiras possíveis: alienígenas, seitas religiosas, manipulações e mentiras… E as inspiradas pinturas de Jon J. Muth ampliam o roteiro intenso e cheio de mistérios de DeMatteis.

Tudo acontece de uma maneira estranha, ainda que levemente familiar, e leva o inocente Moon e nós, leitores, de encontro a um mundo absurdo e incompreensível, diante do qual o inocente Moon e nós, leitores, ficamos impotentes, maravilhados e com um pouco de medo. Lembra um pouco o mundo adulto, não?

Blood”, de J.M. DeMatteis e Kent Williams

Se eu fosse J.M. DeMatteis, também só ia escolher artistas incríveis para ilustrar meus roteiros mais pessoais e reflexivos. Assim como Jon J. Muth no citado “Moonshadow”, o Kent Williams de “Blood” é um exímio ilustrador que consegue criar o clima sombrio e intrigante que a o roteiro demanda.

“Blood” é uma história que mistura terror, filosofia, espiritualidade e lirismo. O personagem-título é um rapaz que cresce em um local onde nada é explicado satisfatoriamente – tudo é justificado por tortuoso escritos religiosos. Blood percebe que há muito mais por aprender. E, quanto mais ele cresce, mais se incomoda com os mistérios e segredos que o cercam.

Esta é uma graphic novel de muitas camadas, alcançadas com uma rara e feliz união entre as palavras de DeMatteis e a arte de Williams. Linda de ler.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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