Semana passada, no Sábado Sessão Saudade, decidi sugerir obras de não-ficção. Adoro obras ficcionais, bem como fantasias desgarradas (era uma vez um foguete que saiu de Krypton…), mas percebi que havia indicado poucas HQs documentais aqui no Hábito de Quadrinhos. Então, resolvi escolher três para deixar como sugestões. Sou péssimo na hora de deixar algo de fora, então acabei pegando seis quadrinhos, em vez de só três… A primeira metade dessa lista está disponível aqui. Abaixo, mais três bons exemplos de quadrinhos. Boa leitura!
“O Golpe de 64”, de Oscar Pilagallo e Rafael Campos Rocha
Não tenho vergonha de citar este livro pela segunda vez aqui no site. Aprender História nos ajuda a entender o presente. “O Golpe de 64” é uma graphic novel detalhada e bem documentada que, como o título entrega, mostra como foi dado o golpe de 1964. O roteiro é ótimo, bem como a pesquisa que o ampara.
“Uma Metamorfose Iraniana”, de Mana Neyestani
A palavra “metamorfose” não está à toa no título: a história parece ter sido escrita por Franz Kafka, mas é real, autobiográfica e começou em 2006. Neyestani escrevia e ilustrava uma HQ infantil em um jornal iraniano. Em uma história, colocou uma barata balbuciando algo para um menino. A onomatopeia usada para representar a fala do inseto lembrava uma palavra azeri, minoria perseguida no Irã. E começou o tormento de Neyestani, que foi preso por isso e passou a aguardar um julgamento que nunca vinha. Uma história de terror bem escrita e desenhada – infelizmente real.
“Fax de Sarajevo”, de Joe Kubert
O polonês-americano Joe Kubert (1926-2012) é um dos grandes mestres das HQs – literalmente. Ele criou, em 1976, uma escola de quadrinhos e artes gráficas que ajudou a formar levas de artistas: a Kubert School, anteriormente conhecida como Joe Kubert School of Cartoon and Graphic Art. E a autobiográfica “Fax de Sarajevo” é sua obra mais pessoal.
Em 1992, quando começou a Guerra da Bósnia, Ervin Rustemagić, o editor de Kubert, morava em Sarajevo com a esposa e as filhas. A cidade, além de ser duramente atingida pela guerra, ficou isolada. Era impossível sair de lá. A única maneira de Rustemagić se comunicar com o mundo era por meio de faxes que enviava a amigos, como Kubert.
Foi uma situação desesperadora, terrível, mas eles se sustentavam na esperança de que ia acabar rápido – afinal, a Bósnia fica na Europa e estávamos em plena década de 90. Mas não acabou rápido, longe disso.
Página a página, mês a mês, Kubert faz um relato intenso e triste da desumana situação que é tentar sobreviver a uma guerra.