Nós, amantes dos quadrinhos, perdemos nesta semana José Ruy, artista português que produzia quadrinhos havia 78 anos – sim, impressionantes sete décadas, quase oito, dedicadas à nona arte.

José Ruy publicou 54 HQs por 13 editoras – inclusive uma bela adaptação de “Os Lusíadas” que guado aqui na minha coleção.

Foi assim que Amadora BD, o mais importante festival português de quadrinhos (onde são conhecidos como bandas desenhadas, ou BD), noticiou a perda de José Ruy.

Faleceu o Mestre José Ruy, um dos pioneiros da 9.ª Arte em Portugal, cujo legado é indissociável da Amadora. Nasceu nesta cidade, em maio de 1930, tendo cursado Artes Gráficas e Belas Artes na Escola António Arroio, onde foi discípulo do Mestre Rodrigues Alves, e dos pintores Costa Mota, Trindade Chagas e Júlio Santos. Com apenas 14 anos, deu os seus primeiros passos enquanto autor, incorrendo nas práticas do desenho e da escrita, nas quais se revelou exímio. Colaborou com as mais importantes publicações de banda desenhada do país, destacando-se as revistas ‘Cavaleiro Andante’ e ‘O Mosquito’, tendo dirigido uma 2.ª série desta última. Publicou mais de 80 álbuns, 54 dos quais em Banda Desenhada, com destaque para as histórias dedicadas a figuras célebres da cultura portuguesa – Aristides de Sousa Mendes, Fernão Mendes Pinto ou Carolina Beatriz Ângelo – a clássicos da literatura nacional como o álbum ‘Os Lusíadas’, ou às suas viagens e cidades de eleição – do Vulcão do Faial à sua Amadora. Percorreu o mundo, da China ao Brasil, passando pela Europa e pela Ásia, tendo sido agraciado com mais de 20 prémios, do qual importa nomear o Troféu de Honra, que recebeu por parte do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, em 1990. Seguiram-se outras distinções e tantas outras conquistas que marcaram o grandioso percurso do Mestre do traço.
Até sempre!
🌟”

José Ruy foi o grande homenageado do festival Amadora BD em 2020. Por conta disso, nós o entrevistamos aqui no Hábito de Quadrinhos, quando ele comentou sobre sua eterna insatisfação enquanto artista: “Para dizer a verdade, não me orgulho do que faço, pois continuo a tentar o nível que prevejo ao iniciar cada história, mas que me decepciona ao terminar.”

Excesso de humildade, claro. Obrigado pelos quadrinhos, José Ruy. O senhor fará falta.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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