Há duas semanas, iniciamos o Dossiê Mulher-Maravilha: dez capítulos narrando a história da enorme personagem criada por William Moulton Marston e Harry G. Peter.

Hoje, abordaremos uma de suas melhores fases nos quadrinhos: a escrita e ilustrada por Phil Jimenez.

Amanhã, encerraremos este dossiê falando de mais um reboot e dos dois longas para o cinema.

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“Há tempos, quando você esteve ‘morta’, eu me vi… preocupado. Pensei se não tínhamos perdido a única pessoa capaz de liderar os heróis de hoje na realização desse sonho (de criar um mundo perfeito). Apesar de a sua mãe ter sido magnífica no seu posto, é a sua fé no sonho que faz de você a Mulher-Maravilha. Espero que seu sonho vire realidade, princesa”.

(Batman para Diana, pouco após ela reassumir o posto de Mulher-Maravilha)

Sob nova direção

Primeira edição do novo milênio,  a capa (ainda sob os cuidados de Adam Hughes) de “Wonder Woman” nº 164 (janeiro de 2001) anunciava: “a bold new direction!” (“uma forte nova direção”). Na ilustração, a Mulher-Maravilha segurava um morcego, e a chamada de capa, “Gods of Gotham” (Deuses de Gotham), não deixava dúvidas: Batman iria aparecer. Era o roteirista e desenhista californiano Phil Jimenez entrando em ação – e nesta primeira sequência de histórias, “Deuses de Gotham”, contando com o experiente J.M. DeMatteis coescrevendo a série.

Jimenez escreveu a revista da Mulher-Maravilha por pouco mais de dois anos – apenas 25 edições, do nº 164 ao nº 188. Muitas dessas histórias foram ilustradas por ele mesmo, um dos maiores desenhistas dos quadrinhos de super-heróis do início do século 21. Apesar do pouco tempo com a personagem, foi o suficiente para criar uma de suas melhores fases, comparável às de George Pérez, John Byrne e do criador William Moulton Marston.

A fase de Jimenez à frente da revista foi dividida em arcos de histórias, que duravam em média quatro números (ou capítulos). E cada sequência parecia homenagear um pedaço da cronologia dela ou reforçar uma de suas características dentro do Universo DC. No primeiro tipo de histórias, estão as que enfocam sua participação na Segunda Guerra Mundial (“Submarinos e Dinossauros” e “Tal Mãe, Tal Filha”) e o reencontro com a renovada Corporação da Vilania, criação de Moulton Marston (“O Elo Perdido”); no segundo, histórias como a que reforça sua ligação com Batman (“Deuses de Gotham”) e seu papel de liderança mediante todas as super-heroínas da DC (“A Bruxa e a Guerreira”). A maioria dessas histórias foi publicada no Brasil.

Deuses de Gotham

Em “Deuses de Gotham” (publicado no Brasil em “Superman”, editora Panini, do nº 2 ao nº 5), Jimenez presta duas homenagens de uma vez: à primeira saga de George Pérez à frente da Mulher-Maravilha (“Deuses e Mortais”, ver capítulo 7), em que ela enfrenta o poderoso Ares, deus da guerra, e seus filhos; e à ligação de Diana com outro pilar do Universo DC: Batman.

Assim, os filhos de Ares, proibidos de voltar à Terra após o combate mostrado em “Deuses e Mortais”, acham um “furo” no acordo e conseguem “retornar” para se vingar da Mulher-Maravilha, mesclando-se aos supervilões de Gotham. Assim, Hera Venenosa, a inimiga do Batman ligada à vegetação, é incorporada por Éris, deusa da discórdia; Espantalho, o vilão estudioso do medo, recebe Fobos, deus do medo; e Coringa, o mais insano e perigoso de todos, é dominado por Deimos, deus do terror.

Quase da mesma forma que os vilões, os heróis das duas mitologias (do Batman e da Mulher-Maravilha) se juntaram para combater os vilões amalgamados. Entretanto, não houve “fusão” dos personagens, mas parcerias. Assim, Robin, o parceiro mirim do Batman, se junta à Moça-Maravilha, parceira adolescente da princesa amazona; Asa Noturna, o primeiro Robin, se junta à Troia, a primeira Moça-Maravilha e sua amiga no grupo de heróis adolescentes Novos Titãs; Oráculo, a amiga de Batman que funciona como fornecedora de sabedoria e conhecimento, trabalhou indiretamente com Penélope, a pitonisa (espécie de oráculo) de Themyscira; Caçadora, a violenta e quase incontrolável aliada de Batman (e ex-Batgirl), se junta à Ártemis, a violenta e quase incontrolável aliada da Mulher-Maravilha (e, por sua vez, ex-Mulher-Maravilha); liderando os grupos, claro, Batman e Mulher-Maravilha.

Batman & Mulher-Maravilha, Robin & Moça-Maravilha, Asa Noturna & Troia, Oráculo & Penélope, Caçadora & Ártemis: quem diria que dois universos tão distintos quanto o de Gotham City e o da Ilha Themyscira teriam tanto em comum? Essa simetria marcaria boa parte dos trabalhos de Jimenez com a Mulher-Maravilha.

E os vilões, é claro, foram derrotados.

Na sequência, uma nova série de histórias interagindo com o Universo DC: em um “crossover” – espécie de história que mexe com a maioria, senão todas, as revistas da editora – a Terra é atacada por alienígenas. Nessa série, batizada “Mundos em Guerra” no Brasil, Themyscira é duramente atacada. A essa altura, as amazonas da cidade perdida de Bana-Mighdall haviam sido encontradas e estavam vivendo na mesma ilha que suas “irmãs distantes” – mas em outra cidade, a Nova Bana-Mighdall.

A (terceira) morte da Mulher-Maravilha

A série da Mulher-Maravilha foi uma das mais abaladas por “Mundos em Guerra”: Hipólita, a rainha e comandante das duas cidades, morre defendendo a Terra (“Wonder Woman” nº 172, de setembro de 2001).

Acima de tudo, é uma morte simbólica. Criada junto com a filha, em 1941 (exatas seis décadas antes), Hipólita foi sempre a grande rainha amazona – mas nada além disso. Só na era John Byrne (“Wonder Woman” nº 128, de dezembro de 1997), ela assume o status de Mulher-Maravilha.

Como ela foi, a rigor, a terceira Mulher-Maravilha da mitologia DC, mas viajou no tempo para a Segunda Guerra Mundial em sua primeira aventura, ela passou a ser, paradoxalmente, a primeira Mulher-Maravilha.

Após John Byrne deixar o título, passaram a existir duas MulheresMaravilha: Diana, em missões solo e com a Liga da Justiça, e Hipólita, membro da reestruturada Sociedade da Justiça. Mas isso merece uma explicação melhor.

A Sociedade da Justiça foi o primeiro supergrupo da DC Comics, tendo sido criado em 1940. Foram membros da Sociedade da Justiça todos os personagens grandes, como Superman, Batman e Mulher-Maravilha. Com o advento dos heróis da “Era de Prata”, nos anos 60, foi criada a Liga da Justiça, também com os principais heróis (Superman, Batman e MulherMaravilha eram membros fundadores, entre outros). Estabeleceu-se que a Sociedade da Justiça pertencia à uma Terra, onde os heróis começaram a agir durante a Segunda Guerra Mundial, e a Liga da Justiça à outra, com os heróis tendo surgido mais tarde, nos anos 60.

Entretanto, com a “Crise nas Infinitas Terras”, Sociedade da Justiça e Liga da Justiça passaram a ter existido sempre na mesma Terra. A Sociedade surgiu nos anos 40, sem Superman, Batman e Mulher-Maravilha, mas com a Miss América fazendo as vezes de membro feminino da equipe. Depois, quando foi estabelecido que Hipólita viajou no tempo e que passou oito anos combatendo ao lado da Sociedade da Justiça, ficou estabelecido que:

  • A Sociedade da Justiça atuou na Segunda Guerra Mundial e tinha a Mulher-Maravilha (Hipólita), Canário Negro e Miss América como seus membros femininos mais importantes;
  • A Liga da Justiça surgiu décadas depois, inspirada no exem-plo da Sociedade da Justiça. A princípio, a Mulher-Maravilha não era do grupo – Canário Negro, filha da Canário da Sociedade, foi membro fundador;
  • Com o tempo, a Mulher-Maravilha (Diana) passou a fazer parte da Liga da Justiça. Foi líder do grupo e atuou nas divisões Liga da Justiça Europa e Força-Tarefa Liga da Justiça (onde também foi líder);
  • Com a morte da Mulher-Maravilha (Diana), a Mulher-Maravilha (Hipólita), egressa de sua viagem no tempo, assumiu seu lugar na Liga da Justiça;
  • Ao voltar da morte, a Mulher-Maravilha (Diana) reassumiu seu lugar na Liga da Justiça. Pouco tempo depois, a Sociedade da Justiça ressurgiu, reformulada, e passou a ter a MulherMaravilha (Hipólita) como membro.

Assim, havia duas Mulheres-Maravilha em ação: uma, rainha (Hipólita) e membro da Sociedade da Justiça; outra, princesa (Diana) e membro da Liga da Justiça. Fácil para quem acompanhava a complexa miríade de revistas da DC, difícil para quem via de fora.

A morte de Hipólita, no ataque de Imperiex, “limpa” essa confusão. Para todos os efeitos, Hipólita foi a primeira Mulher-Maravilha, por ter viajado no tempo, mas está morta. Diana volta a ser a única Mulher-Maravilha – Ártemis segue sendo uma ocasional e impetuosa aliada, mas nada além disso.

Com a morte de Hipólita, suas duas filhas, as princesas Diana (Mulher-Maravilha) e Donna (Troia), ficam órfãs e com responsabilidades sobre uma Themyscira devastada. Nova Bana-Mighdall foi completamente destruída. Centenas de amazonas morreram. E Circe, uma das mais perigosas inimigas da Mulher-Maravilha, estava para ressurgir, ainda mais poderosa.

“A Bruxa e a Guerreira”

Na mitologia grega, Circe era uma bruxa poderosa e maligna, conhecida por transformar homens em animais. Jimenez levou isso a sério na série “A Bruxa e a Guerreira”, publicada no Brasil em “Superman”, editora Panini, do nº 6 ao nº 9.

Circe, mais poderosa do que nunca, aparece em Nova York transformando todos os homens – super-heróis, inclusive – em animais superpoderosos a seu dispor. Assim, surgem monstros híbridos: Batman vira uma espécie de cobra; Flash é fundido a um burro; até o vilão Lex Luthor á amalgamado a uma aranha; e Superman é misturado a Apocalypse, poderoso vilão que o “assassinou” na série “A Morte do Superman”.

A série mostra, mais do que nunca, a liderança da MulherMaravilha diante de todas as super-heroínas da DC. É ela quem lidera um exército de nada menos que 70 super-heroínas, das mais famosas aos títulos menos conhecidos da DC Comics: Abelha Rainha, Águia Flamejante, Anima, Argenta, Ártemis, Batgirl, Betty Clawman, Brilho, Canário Negro 2, Cascata, Cigana, Cinnamon (citada em um outdoor, já que é uma heroína do século 19), Crisálida, Dama de Gelo, Delfim, Diamondette, Doll Girl, Doutora Luz, Espinho, Espinho Negro, Estelar, Foice, a brasileira Fogo, Fúria 1, Fúria 2, Garoto-Monstro, Grace, Grande Barda, Halo, Inferno, Imperatriz, Jade, Janízara, Jesse Quick, Katana, Lady Fantasma 2, Mary Marvel, Maya, Miragem (outra heroína brasileira da DC), Moça-Maravilha 2, Mulher-Coruja, Mulher-Gavião 2, Nêmesis, Onyx , Oráculo, Pássaro de Fogo, Pássaro Flamejante, Pantha, Platina, Poderosa, 4-D, Rapina 2, Ravena, Rose Wilson, Rusalka, Salteadora, Segredo, Sina, Sombra da Noite, Stargirl, Supergirl 2, Sweet 16, Terra 2, Troia, Tsunami, Tundra, Vigilante, Víxen e Zatanna. Lá em cima, a imagem que abre este post é desta história.

Um número impressionante de heroínas – sem mencionar as supervilãs, que também apareceram às dezenas em “A Bruxa e a Guerreira”.

Mais: todas, heroínas e vilãs, surgiram depois da Mulher-Maravilha. A “exceção” é a Mulher-Gavião 2, que surgiu em 1999, mas que é herdeira dos poderes e do nome da primeira Mulher-Gavião – essa sim, surgida poucos meses antes da Mulher-Maravilha (ver capítulo 1) e morta na minissérie “Zero Hora”, de 1994.

Uma história como essa, tão cheia de significados e representativa da importância da Mulher-Maravilha, termina com um combate cinematográfico: por páginas, ela, a maior heroína do Universo DC, confronta violentamente o maior herói do mesmo universo: Superman, alterado e dominado pela magia de Circe. A história de “Wonder Woman” nº 175 termina com uma linda imagem de uma única página, belamente ilustrada por Jimenez: Superman chorando nos braços da Mulher-Maravilha, implorando desculpas. E ela assegurando: “e tudo vai ficar bem…”.

Reinventando os ícones

Uma vez tendo recolocado a Mulher-Maravilha como única e incontestável super-heroína da DC Comics, Phil Jimenez continuou no seu trabalho de solidificação da mitologia da personagem. Em “Wonder Woman” nº 177, publicada no Brasil pela editora Panini em “Superman” nº 10, ele mexe em um dos pontos mais importantes da mitologia da heroína amazona: Themyscira.

Na história, as deusas gregas que sempre acompanharam as amazonas das quais Diana era princesa, assim como as deusas egípcias das amazonas de Bana-Mighdall, juntaram suas forças para reconstruir Themyscira, destruída durante a mesma saga “Mundos em Guerra” que custou a vida da rainha Hipólita.

Assim, os dois panteões unidos trabalharam para, nas palavras de uma das deusas, deixar a ilha “uma vez mais um paraíso”, em clara alusão ao nome original da nação amazona nos quadrinhos, Ilha Paraíso. A reconstruída Themyscira era agora um arquipélago flutuante localizado no Triângulo das Bermudas, dotada não só de um forte poder místico, graças às bênçãos das deusas, mas também tecnológico. Uma Themyscira para os leitores do século 21.

A outrora líder guerreira Phillipus torna-se chanceler de Themyscira. A nação da Mulher-Maravilha deixa se ser isolada do “mundo dos homens” e passa a estar aberta a “visitantes de todo gênero e espécie”. Diz Phillipus, sobre Themyscira: “…não é mais a ‘Ilha Paraíso’ para uma raça retraída de uma era distante, mas uma instituição… Uma universidade… Para nada mais que a livre troca de ideias e informações sobre todo o multiverso”.

De quebra, como “brinde” na história, Jimenez adapta aos quadrinhos algo criado no seriado de tv estrelado por Lynda Carter: o giro para trocar da roupa civil para o uniforme da Mulher-Maravilha. Mais um ícone resgatado para o século 21. E o passo seguinte seriam… os vilões. Ou melhor, a Corporação da Vilania.

Corporação da Vilania

A Corporação da Vilania (Villany Inc., no original), principal grupo de inimigos da Mulher-Maravilha, que surgiu na última história escrita pelo criador Marston, era formada por Blue Snowman (uma mulher disfarçada de homem), Mulher-Leopardo, Doutora Veneno, Eviless, Giganta, Hypnota e Zara. Na versão atualizada para o século 21 por Jimenez, o grupo é formado pela rainha Cléa (agora, a líder), Doutora Veneno, Giganta, Trindade, Soturna e Cyborgirl. Essa nova versão do grupo aparece na saga “Elo Perdido”, publicada em “Wonder Woman” dos números 179 a 183 (no Brasil, em “Superman”, editora Panini, do nº 12 ao nº 17).

A saga se passa em Skartaris, reino místico do Universo DC e que fica em outra dimensão, criado nas histórias de outro personagem da editora, o Guerreiro. Nesta saga, são apresentadas (ou, em alguns casos, reapresentadas) as origens atualizadas das grandes inimigas da Mulher-Maravilha.

Cléa ainda é a rainha deposta de Ventúria (com o adendo de ter enfrentado a rainha Hipólita, quando era a Mulher-Maravilha, durante a Segunda Guerra Mundial), mas as outras sofreram adaptações em relação a suas origens “clássicas”. Giganta, por exemplo, é a cientista Doris Zuel, que tentou transferir seu cérebro para o corpo da Mulher-Maravilha. Não conseguiu, e ainda foi parar no corpo da gorila Giganta. Depois, após nova transfusão, assumiu o corpo da musculosa artista de circo Olga. Soturna e Trindade, vilãs que não são de primeira grandeza no universo da Mulher-Maravilha, têm poderes e origens místicas, enquanto as outras duas vilãs que completam o grupo têm origem “científica”. A segunda Doutora Veneno é neta da original, a princesa japonesa Maru, que se aliou à rainha Cléa contra a Mulher-Maravilha (Hipólita) durante a Segunda Guerra. E LeTonya Charles, a Cyborgirl, teve partes de seu corpo acidentado substituídas por membros artificiais de alta tecnologia.

Mas, mais importante do que a Corporação da Vilania e Skartaris, é a presença do novo interesse romântico de Diana. Uma vez que o piloto Steve Trevor, após a reformulação ocorrida em “Crise nas Infinitas Terras”, tornou-se o par romântico de Etta Candy, Diana ficou… solitária. Foi criado, então um novo personagem, que foi aparecendo aos poucos, e tornou-se protagonista justamente em “O Elo Perdido”, quando viajou, contra a sua vontade, para Skartaris, e se viu envolvido no meio do violento combate entre a Mulher-Maravilha e a Corporação da Vilania. O nome dele é Trevor mas não Steve Trevor que, afinal, é outro personagem): Trevor Barnes.

Trevor Barnes

Criado por Phil Jimenez, Trevor Augustus Barnes é um negro alto, forte, cabeludo e, como convém à Mulher-Maravilha, de conduta moral irretocável. Ele é um ativista radical dos direitos humanos, com direito a trabalhos na África ocidental, e que exerce o cargo de diretor de campo da Organização de Desenvolvimento Rural da onu.  Surgiu em “Wonder Woman” nº 170 (julho de 2001) .

Nas palavras dela (Mulher-Maravilha), ele era “muito envolvente, trabalha nas Nações Unidas… É inteligente, sexy… E, por Gaia, é tão lindo!”.

Barnes, por outro lado, teve uma impressão bem diferente da musa das super-heroínas. Tanto que foi Diana quem tomou a atitude de convidá-lo para sair – e acabou ouvindo um não como resposta.

Mais tarde, Barnes explicou sua atitude:

 “Sabe por que eu disse não na primeira vez que você quis sair comigo? Porque jamais lhe ocorreria que eu pudesse recusar. Talvez você não tivesse consciência disso. Para mim, você era uma poderosa boneca Barbie que nunca tinha passado uma saia justa da qual não pudesse sair com uma sessão de malhação ou com seu belo sorriso.”

Para um pretende amoroso a uma personagem tão icônica quanto a Mulher-Maravilha, não bastava, é claro, que ele fosse apenas lindo, sexy, inteligente e socialmente engajado. Tinha que ser alguém que enxergasse a beleza interior das pessoas – mesmo a de alguém com uma beleza exterior tão reluzente quanto a dela. Alguém que, a princípio, não sentisse atração pela Mulher-Maravilha, justamente por valorizar a beleza interior em detrimento da exterior.

Não que Barnes não pudesse mudar de ideia mais tarde. Afinal, desde a sua concepção, a Mulher-Maravilha sempre foi idealizada como uma mulher completa – e a beleza interior era indispensável.

Princesa Diana, a Miss América

A saga “O Elo Perdido” é sucedida por uma história em duas partes que mantém o ritmo de homenagens a personagens da Era de Ouro. Após salvarem Skartaris, a Mulher-Maravilha e Trevor Barnes tentam voltar para os Estados Unidos. E conseguem… em parte.

Os dois retornam aos eua da Segunda Guerra Mundial. E Diana vê sua finada mãe, décadas antes de sua morte, em ação como a MulherMaravilha. Para ajudá-la sem se revelar uma viajante do tempo, Diana assume a identidade de outra heroína: Miss América.

A Miss América original não pertence ao universo da Mulher-Maravilha – nem, originalmente, à DC Comics, aliás. A repórter Joan Dale, identidade secreta da Miss América, foi criada por Elmer Wexler na revista Military Comics nº 1, de agosto de 1941, para a então rival Quality Comics. A editora deixou de existir em 1956, e seus personagens passaram à DC Comics, que os reintroduziu (quando o fez) aos poucos em sua cronologia.

Assim, a Miss América era só uma heroína que havia lutado durante a Segunda Guerra Mundial (e até colocada, retroativamente, como membro da Sociedade da Justiça, ao lado da Mulher-Maravilha/Hipólita, de quem era amiga), até Phil Jimenez a transformar na segunda identidade da princesa Diana enquanto super-heroína. Um pequeno mas curioso detalhe no universo da Mulher-Maravilha.

Mais curioso ainda é um fato que diz respeito apenas aos leitores brasileiros. Afinal, os tradutores das histórias de super-heróis para o Brasil sempre tiveram muita curiosidade quanto aos nomes. Flash, por exemplo, virou Joel Ciclone; Martian Manhunter (Caçador de Marte) foi rebatizado como Ajax. E Wonder Woman… houve uma época em que, para os brasileiros, era… Miss América, como em “O Homem de Aço” nº 13, da editora Ebal (maio de 1971).

Ou seja: mais de três décadas antes de a Mulher-Maravilha assumir a identidade de Miss América nos Estados Unidos (a história é do final de 2002), ela já era conhecida como Miss América no Brasil.

E a filha da Mulher-Maravilha?

Com a “Crise nas Infinitas Terras” (veja o sétimo post desta série), não fazia mais sentido a personagem Fúria – Hippolyta Trevor, filha já adulta de Steve Trevor e da Mulher-Maravilha da Terra-2. Entretanto, o conceito seria reformulado anos depois.

Fúria passou a ser Helena Kosmatos, super-heroína grega que atuou ao lado da Mulher-Maravilha (Hipólita) na Segunda Guerra Mundial. Helena teve uma filha, Hippolyta, que foi criada pela Miss América (a original, Joan Dale, e não a princesa Diana). Joan Dale era casada com Derek Trevor, e a filha da Fúria original cresceu com o nome dos pais adotivos: Hippolyta Trevor – mesmo nome, mas não mais a filha de Steve Trevor e da princesa Diana.

A filha da Fúria/Helena Kosmatos, Hippolyta “Lyta” Trevor, se tornou a segunda heroína com o nome Fúria, e atuou ao lado da Corporação Infinito, onde conheceu seu futuro marido: Hector Hall, filho dos heróis Gavião Negro e Moça-Gavião, membros da Sociedade da Justiça. Hall era o herói conhecido como o Escaravelho de Prata, depois mudaria seu codinome para Sandman e, mais tarde ainda, para Senhor Destino. Após se casar, Lyta mudou seu nome para Hippolyta Trevor Hall.

Hector e Lyta tiveram um filho, Daniel Hall, que teve importância no final de outra série da DC Comics, “Sandman”.

A Fúria/Helena Kosmatos chegou a aparecer em histórias da Mulher-Maravilha – ela acreditava ser filha biológica da rainha Hipólita. Já o núcleo de Fúria/Lyta Trevor, por sua vez, acabou distanciando-se da mitologia da Mulher-Maravilha.

A última história de Phil Jimenez

Último grande roteirista a criar as histórias da Mulher-Maravilha em seus primeiros 70 anos, Phil Jimenez despediu-se da personagem em março de 2003, com “Wonder Woman” nº 188, da mesma maneira de sempre: uma história moderna, adaptada ao século 21, mas, acima de tudo, nostálgica e clássica.

Na história, a princesa Diana “acerta as contas” com seu quase caso Trevor Barnes e convive por alguns dias com sua família. Chega-se ao acerto de que são “bons amigos”, mas é deixado o gancho para os futuros escritores de que ele poderia ir além disso.

Além disso, é mostrado o caráter múltiplo da Mulher-Maravilha, consequência da reformulação de George Pérez e seu novo status de embaixadora de Themyscira: ela dá entrevistas, participa de aulas na escola de luta amazona, anda de skate em um centro para a juventude, comparece à Fundação Mulher-Maravilha, criada no início dos anos 80 (que deixou de existir na vida real, mas não nos quadrinhos), e ainda tem que conviver com o ciúme da irmã gêmea de Trevor. Também fica indicado que ela substituirá sua mãe como parceira de baralho dos velhos integrantes da Sociedade da Justiça, como o Pantera, o Lanterna Verde e o Flash (referência à era John Byrne e às histórias do próprio Jimenez).

No final da hitória, ela convoca a imprensa e convidados especiais do “mundo dos homens” para um festival em que reafirma o ideal amazônico tal qual foi concebido por William Moulton Marston, levemente repaginado para o século 21:

“A vocês, que lutam para disseminar a honra e a sabedoria, e a todos cujas vidas são um tributo à bravura e à nobreza, eu, em nome da rainha Hipólita, cujo espírito protege esta ilha e continua a me guiar a cada momento, proponho que reafirmemos o compromisso e a devoção aos nossos ideais. À liberdade. Ao amor. À paz.”

Para fechar a história, Jimenez apresenta uma página dupla (abaixo), ilustrada por ele mesmo, em que aparecem nada menos do que 14 personagens ligadas à mitologia da Mulher-Maravilha (todas mulheres, é claro):

  • Mulher-Maravilha (Hipólita);
  • Mulher-Maravilha (Ártemis);
  • Donna Troy (Troia, irmã gêmea da Mulher-Maravilha e primeira Moça-Maravilha);
  • Cassandra Sandsmark (segunda Moça-Maravilha);
  • Nada menos do que oito versões da Mulher-Maravilha (Diana), inclusive a Neném-Maravilha (da Era de Prata), a MulherMaravilha de uniforme branco e sem poderes (Era I Ching), a Diana sem o título da Mulher-Maravilha, tal qual desenhada pelo brasileiro Deodato, a versão original de Harry G. Peter e até a versão para o desenho animado dos Superamigos. Um presente de um grande artista (e fã) aos demais fãs.

Depois de Jimenez

A revista “Wonder Woman” vagou sem rumo entre a saída de Phil Jimenez (nº 188) e a entrada de Greg Ruck (nº 195). Essa fase, inclusive, é inédita no Brasil.

Mas isso não significa que a mitologia da personagem não tenha sido afetada. Surge um novo vilão: o poderoso Deus Estilhaçado.

Na história, o Deus Estilhaçado derrotou todas as guerreiras amazonas. Seu objetivo era remodelar a existência, e passou a perseguir a Mulher-Maravilha para isso –  a heroína chegou até a adotar um corte de cabelo curto para não ser identificada por ele.

Não adiantou: o Deus Estilhaçado se apossou do corpo da MulherMaravilha e teria vencido, não fosse o sacrifício de Trevor Barnes.

Apenas seis meses após a saída de Phil Jimenez, Trevor Barnes é assassinado – e com ele, morre um dos personagens mais complexos e interessantes da mitologia da super-heroína amazona.

A animação da “Liga da Justiça”

Em 2001, completavam-se mais de 20 anos do fim do seriado estrelado por Lynda Carter (ver Capítulo 6) e 15 anos da última vez em que a super-heroina havia coestrelado um desenhado animado (“The Super Powers Team: Galactic Guardians”, a última das dez temporadas de “Superamigos”).

Neste período, ela participou, como coadjuvante, de um episódio do desenho animado “Superman”, em 1988, quando foi interpretada por B.J. Ward (a mesma atriz de “The Super Powers Team: Galactic Guardians”).

Após esse hiato, a Mulher-Maravilha voltaria em grande estilo, em um dos melhores desenhos animados já criados a partir de personagens da DC. Foi sua “reapresentação” ao público da tv.

De 2001 a 2006, a Mulher-Maravilha foi uma das protagonistas das cinco temporadas de “Justice League” (“Liga da Justiça”), desenho animado que levou para a tv, em 91 episódios, não só o principal supergrupo da DC Comics, mas dezenas de heróis menos famosos e vilões.

No seriado, a Liga da Justiça gira em torno de um “núcleo” formado por sete super-heróis: Superman, Batman, Flash, Lanterna Verde, J’onn J’onzz, Mulher-Gavião e, claro, Mulher-Maravilha.

Susan Eisenberg dá voz à Mulher-Maravilha em todos os 52 episódios em que ela aparece. Além de Diana, o universo criado por William Moulton Marston também é representado pela rainha Hipólita (na voz de Susan Sullivan), pelo onipresente Steve Trevor (Patrick Duffy), a amazona Antíope (Maggie Wheeler) e as vilãs Giganta (Jennifer Hale) e Mulher-Leopardo (Sheryl Lee Ralph).

Nesta série, a Mulher-Maravilha é representada, sobretudo, como uma guerreira. Uma vez mais apresentada como princesa de Themyscira, filha da rainha Hipólita, Diana vai ao “mundo dos homens” para ajudar contra uma invasão alienígena (no episódio de abertura da primeira série, “Origens Secretas”). Depois, mesmo contra a vontade da mãe, ela se une à recém-fundada Liga da Justiça.

Sua ligação com Themyscira e a mitologia criada nos quadrinhos é desenvolvida no decorrer da série. No episódio duplo “Paraíso Perdido”, no primeiro ano da primeira temporada, o vilão Félix Fausto (tradicional inimigo da Liga da Justiça nos quadrinhos) transforma as mulheres de Themyscira em pedra. Ele quer tentar subornar a Mulher-Maravilha para que ela roube artefatos que ajudarão a libertar o deus Hades. A princesa derrota Félix Fausto, com a ajuda da Liga, em uma batalha na própria Themyscira, mas, como punição por ter levado homens para a ilha, ela é banida de sua terra natal.

Em outra episódio (“Fúria”) da mesma temporada, a Liga enfrenta uma amazona vilã, Aresia, criada no próprio seriado. Ela se alia a vilões tradicionais dos quadrinhos, como a Safira Estrela (inimiga do Lanterna Verde) e Solomon Grundy. O nome do episódio, “Fúria”, assim como a aparência (uniforme e cabelo) de Aresia, são referências diretas à Fúria, personagem que era filha de Steve Trevor e da Mulher-Maravilha na Terra-2, antes da reformulação ocorrida em “Crise nas Infinitas Terras” (ver capítulo 7).

No último episódio desta primeira temporada, “Nos Tempos de Savage”, a Liga viaja no tempo e combate na Segunda Guerra Mundial, ao lado de personagens clássicos da DC Comics: Companhia Moleza, Falcões Negros… e Steve Trevor. A história termina com os heróis de volta ao presente, e a Mulher-Maravilha indo visitar Trevor em um asilo, onde ele mais uma vez a chama de “anjo”, em uma referência direta ao romance dos dois na Era de Ouro da personagem (ver capítulo 2 desta série).

A segunda temporada tem menos referências à mitologia da Mulher-Maravilha. Mas, no episódio final, o triplo “Escrito nas Estrelas”, a Terra é invadida pela força armada do planeta Thanagar, e os heróis da Liga passam a viver escondidos em pares. Andando pelas ruas, Bruce Wayne, o Batman, e a princesa Diana veem uma mulher sendo espancada pela guarda thanagariana. Diana ataca os guardas e revela o seu disfarce. Eles passam a ser perseguidos e entram em um restaurante, onde se beijam para despistar os invasores. O possível romance entre os dois ficaria para a terceira temporada do desenho, que depois de duas temporadas assumiria o nome “Justice League Unlimited” (“Liga da Justiça Sem Limites”).

“Esta Porquinha”, o quinto episódio da primeira temporada de “Liga da Justiça Sem Limites”, aprofunda a tensão amorosa da Mulher-Maravilha com Batman, assim como ocorreu também na série da Liga da Justiça protagonizada pelos dois.

Circe, histórica inimiga da princesa amazona nos quadrinhos, transforma Diana em uma porquinha. Fera Bwana, desconhecido herói da DC que atua na África, cuida da busca pela heroína transformada, enquanto Batman e a heroína mística Zatanna vão atrás de Circe para reverter o encanto.

A vilã impõe uma condição: Batman deve revelar seu sentimento mais profundo e escondido. E o Homem-Morcego canta, em um clube noturno, “Am I Blue?” (em português, “Sou triste?”), que já foi gravada, entre outros, por Bette Midler, Cher e Barbra Streisand. Fica no ar, mais uma vez, o interesse romântico de Batman pela Mulher-Maravilha e vice-versa.

Entretanto, o relacionamento não seria apresentado explicitamente até o final da série – mas não escaparia de ser abordado mais uma vez, agora nas histórias em quadrinhos.

Uma curiosidade: no capítulo “O Equilíbrio”, de “Liga da Justiça Sem Limites”, mais uma vez o vilão Félix Fausto entra em ação, o que leva a Mulher-Maravilha a tentar detê-lo. Neste episódio, fica subentendido que Diana é filha de Hades, o deus grego do mundo dos mortos, com Hipólita. A rainha das amazonas ser a guardiã dos portões do Tártaro seria uma punição imposta pelos deuses pelo caso amoroso. Essa ideia, de um filho de Hipólita com um deus, seria reaproveitada, ainda que com modificações, no longa de animação “Mulher-Maravilha”, que seria lançado em 2009.

A Mulher-Maravilha voltaria a ser uma das protagonistas de um desenho animado da Liga da Justiça em 2008, com o lançamento de “Liga da Justiça – A Nova Fronteira” (“Justice League: The New Frontier”). Quem interpretou a princesa amazona no longa, dirigido por Dave Bullock, foi Lucy Lawless, conhecida por interpretar “Xena” no seriado homônimo.

Mulher-Maravilha e Batman… namorados?

Nos quadrinhos, enquanto os novos escritores rebolavam tentando dar um novo rumo à Mulher-Maravilha em sua revista solo, a heroína continuava sendo um dos três pilares da revista “jla”, estrelada pela Liga da Justiça – ao lado de Superman e Batman.

E no decorrer de 2003, durante a saga “A Era Obsidiana” (publicada no Brasil em“lja – Liga da Justiça”, números 12 a 18), ficou sugerido que havia algo romântico entre a Mulher-Maravilha e o Batman.

À época, a revista era comandada por Joe Kelly (roteiro) e Doug Mahnke (arte). Mas a trama do relacionamento entre os dois só foi desenvolvida no ano seguinte, em “jla” nº 90 (“lja – Liga da Justiça”, nº 31), ilustrada por Chris Cross.

Na história “Talvez…”, os heróis assumem sua incapacidade de dialogar sobre o que sentem um pelo outro:

“(Mulher-Maravilha) – Você poderia ter ligado.

(Batman) – Nós já tentamos antes. Só conseguimos conversar no trabalho.

(Mulher-Maravilha) – Isso deveria nos dizer algo.

(Batman) – Como se estivéssemos adiando tudo propositadamente? Você não quer ter a conversa? Só para ter certeza?

(Mulher-Maravilha) – Você, sim.

(Batman) – Você, não?

(Mulher-Maravilha) – Eu não disse isso…”

Incapazes de conversar, os heróis consultam o Articulador de Transconsciência, uma máquina de tecnologia marciana do personagem J’Onn J’Onnz (outro integrante da Liga da Justiça) que, nas palavras dele, é uma “janela para o subconsciente”.

Ou seja: em vez de terem relacionamentos normais, como todo ser humano, para descobrirem na prática se dá certo ou não, os membros da Liga da Justiça especulam as possibilidades por meio de uma máquina.

Em uma possibilidade do relacionamento vista pela Mulher-Maravilha, ela enxerga situações como:

  • ela, a imortal Mulher-Maravilha, casada com um Batman envelhecido, andando de cadeira de rodas e à beira da morte;
  • Diana transformada na Batmulher e formando a nova Dupla Dinâmica ao lado do Batman;
  • Diana participando de um banquete, ao lado de Bruce Wayne (a identidade secreta do Batman), em Gotham City, completamente entediada;
  • Bruce Wayne participando de um banquete ao lado de Diana em Themyscira, sendo ridicularizado pelos deuses gregos;
  • a Mulher-Maravilha assassinando o Coringa, após ele ter matado o Batman.

 Ao sair da máquina, a Mulher-Maravilha encontra o próprio Batman, que confessa ter cogitado usar o mesmo Articulador de Transconsciência, mas ter desistido por não querer ver, em suas palavras, “o que se esconde nas profundezas do meu cérebro”.

Finalmente, após a Mulher-Maravilha ter “enfrentado” seu subconsciente, ela e Batman têm “a” conversa. E é ela quem define os rumos do diálogo e o destino do possível relacionamento entre ambos:

–  (Mulher-Maravilha) Bruce. É possível… mais que possível nos darmos bem juntos. Mas há um potencial equivalente para o desastre. Eu te amo… como um velho amigo e aliado, mas não estou disposta a arriscar isso para saber se há algo mais. E você?

Diante do silêncio do homem-morcego, eles se abraçam e vivem felizes para sempre… como amigos. Para decepção da maioria dos fãs, que certamente se divertiriam com algumas aventuras desse inusitado romance – mesmo que não “virasse casamento”.

Curiosamente, em 2002, a DC Comics havia lançado um álbum de luxo que trazia, já na capa, a bota da Mulher-Maravilha pisoteando o rosto dolorido do Batman: “The Hiketeia” (publicada no Brasil como “Mulher-Maravilha – Hiketeia”, pela editora Panini, em janeiro de 2003). Na história, criada por Greg Rucka (roteiro) e J.G. Jones (arte), a princesa consegue refúgio a uma criminosa oriunda de Gotham City. Batman, que não mede limites para fazer justiça, acaba desafiando sua aliada de longa data – e dezenas de vezes mais poderosa do que ele. Resultado: dois belos, ainda que curtos, confrontos entre ambos – e sem um vencedor definitivo, como convém às convenções não escritas do gênero de super-heróis.

O longa-metragem de animação: o retorno

Três décadas após o fim da última temporada para a TV, a MulherMaravilha estava de volta como protagonista solo. Não de carne e osso, nem em um seriado, mas na forma de um longa-metragem de animação: “Mulher-Maravilha” (“Wonder Woman”, no original), dirigido por uma mulher (Lauren Montgomery, cujo único filme anterior era outra animação para a DC Comics, “Superman/Doomsday”, de 2007) e com metade do roteiro de outra – a veterana dos quadrinhos Gail Simone, que dividiu a tarefa com Michael Jelenic.

O elenco foi encabeçado por Keri Russell (de “Missão Impossível 3”), que deu voz à personagem principal. Nathan Fillion (do seriado “Firefly”) vive o eterno par romântico Steve Trevor; Alfred Molina (o Doutor Octopus do segundo filme do “Homem-Aranha”) interpreta o vilão Ares; e Rosario Dawson (de “Sin City”), como Ártemis, completa o elenco.

O filme é nitidamente voltado para o público do século 21, já mais acostumado a citações sensuais e à violência explícita. Começa com uma guerra violenta: na primeira cena, amazonas (que pela força e velocidade são sobrehumanas) enfrentam até a morte um Exército de homens e monstros.

Hipólita, a rainha amazona, usa três armas: laço, tiara e espada. O comandante rival, o deus da guerra Ares, faz menção a uma relação sexual que ele teria tido com Hipólita. Mais adiante, é explicado que eles tiveram um filho: Thrax. É a primeira vez, em qualquer mídia, que se descobre que a Mulher-Maravilha teve um irmão (houve uma irmã no seriado de tv, chamada Drusilla, e uma gêmea nos quadrinhos, Donna Troy).

É revelado que as amazonas foram escravizadas durante décadas por Ares. A tropa liderada por Hipólita vence a batalha, mas Zeus, o maior dos deuses do Olimpo, a impede de assassinar seu filho Ares. Hera, a mulher de Zeus, manda as amazonas para uma ilha paradisíaca, onde elas mantêm o bélico Ares devidamente aprisionado.

Uma vez lá,  assim como nos quadrinhos, Hipólita esculpe sua filha Diana no barro.

Anos depois, um piloto da Aeronáutica norte-americana, conhecido como Zipper, pousa na ilha. Diana, agora crescida, é a única que não havia visto antes um homem. O piloto a chama de “anjo”, em uma clara menção às primeiras histórias da personagem.

Esta versão da Mulher-Maravilha é tão bélica (e distante da sua versão original, criada sobre o poder do “amor”) que sua primeira reação ao ouvir o piloto chamá-la de “anjo” é… nocauteá-lo.

Quando o piloto acorda, descobre-se que ele é Steven Rockwell Trevor, o que torna o filme de acordo com as versões dos quadrinhos e do seriado de tv. As diferenças típicas do século 21 aparecem logo depois, quando ele elogia, em alto e bom som, os “seios lindos” de Diana, algo inimaginável nas histórias.

Há, como em outras versões, um torneio para decidir quem o levará de volta a seu país. Diana usa um capacete de guerreira para não ser identificada e, claro, vence a disputa – que é composta por provas menos exóticas, como lançamento de dardos, tiro com arco e corrida de bigas.

Eleita a embaixadora, Diana recebe um uniforme que, como é costume, é criado respeitando as cores da bandeira do país para onde a representante está sendo enviada. Ou seja: uma nova justificativa para que a emissária de uma ilha de colonização grega usasse as cores norteamericanas.

Além do uniforme, ela recebe os “braceletes de amazona”, feitos de restos do escudo de Zeus feito por Hefesto, e o Laço da Verdade, um presente da deusa Héstia.

Uma reviravolta deixa mais dramática a missão de Diana: as amazonas são traídas, e Ares foge. A missão torna-se dupla: escoltar Trevor e recapturar Ares antes que ele inicie uma nova guerra mundial.

O longa-metragem de animação: as diferenças

As diferenças para a versão dos quadrinhos tornam-se mais gritantes, uma vez que Diana chega ao “mundo dos homens” – e isso significa muito mais do que ela pousar seu jato invisível e estabelecer base em Nova York em vez de Washington (versão clássica) ou Boston (versão pós-Crise).

Steve Trevor é quase outro personagem. Continua sendo um piloto bonitão, mas em vez do galante romântico apaixonado, torna-se um garanhão que paquera incessantemente Diana. Chega a fazer referências à terra natal de Diana como “a ilha do cinto de castidade”. Tenta embebedar Diana com tequila – e, pateticamente, cai bêbado no chão.

Etta Candy, a gordinha melhor amiga de Diana, foi transformada em uma loira sexy e atirada, que tem crise de ciúmes ao ver Diana.

Tanto Trevor como Etta estão menos “perfeitinhos” e mais humanos neste filme. Diana, além de estar mais magra e baixa que sua mãe, não voa – mas essas são só as diferenças físicas. A princesa está com uma postura definitivamente mais violenta. Ao ser confrontada por assaltantes comuns, diz desejar que alguém ali se machuque.

Uma discussão interessante que se dá no filme, em meio às violentas cenas de ação, é sobre o fato de as amazonas terem se exilado do “mundo do patriarcado” por tanto tempo. Hipólita, a rainha, grita para a amazona que traiu seu povo: “Vocês ganharam uma vida de paz e beleza!”. E ouve em resposta: “E nos foi negada uma vida de família e filhos. Sim, Hipólita, as amazonas são guerreiras, mas são mulheres também.”

Ao fim da aventura, Diana parte novamente para o mundo dos homens como embaixadora. Dessa vez, entretanto, em definitivo – contanto que volte com frequência para visitar seu povo. Diz a rainha Hipólita à sua filha: “Está na hora de voltar a abrir a comunicação entre homens e mulheres. Algo que eu deveria ter feito há muito tempo. E você, minha filha, será a embaixadora”.

E só na primeira cena após o retorno definitivo dela aos Estados Unidos, a menos de 30 segundos do fim do filme, a palavra “Mulher-Maravilha” é dita – na boca de uma criança, que vê Diana, devidamente fantasiada, indo combater uma supervilã, a Mulher-Leopardo. Mesmo codinome, mesmo poder… outra atitude.

Quadrinhos: a nova fase

Greg Rucka começou a escrever a personagem a partir de “Wonder Woman” nº 195, de outubro de 2003 (no Brasil, a fase começa em “Superman Batman” nº 1, editora Panini). O eixo das histórias se desloca para a Embaixada de Themyscira, em Washington. É mostrado o lado diplomata da Mulher-Maravilha, assim como seu lado bélico. Ela é, apesar dos esforços de George Pérez, John Byrne e Phil Jimenez, mais uma vez retratada como uma guerreira, acima de tudo. Ou melhor: uma guerreira-diplomata. E logo na história de estreia, ela se prepara para lançar um livro, “Reflexões – Uma Coletânea de Textos e Discursos”. Suas ideias pontuarão as histórias seguintes, que irão entremear referências mitológicas, algumas discussões apresentadas no livro “Reflexões” e muita pancadaria com supervilões.

A grande vilã da fase Greg Rucka é Veronica Cale (no Brasil, “Verônica”), uma espécie de Lex Luthor de saias. Também cientista, também intelectualmente genial, também movida por inveja. Ela orquestra um grande plano para difamar a Mulher-Maravilha quando do lançamento do livro “Reflexões”, chegando ao ponto de manipular supervilões, como o poderoso telepata Dr. Psycho, para atingir seus objetivos.

Outra vilã é Medusa, a górgona da mitologia grega que transforma as pessoas em pedra. O caráter guerreiro e mitológico da Mulher-Maravilha é realçado no momento em que Medusa, em nome do deus Poseidon, desafia Diana, que representa a deusa Pallas Atena, para um combate até a morte. A luta se dá em um estádio e é magicamente televisionada por Circe (a antiga inimiga está de volta) para o mundo inteiro, que vê a princesa Diana cometer assassinato: ela vence o combate ao degolar Medusa.

A luta deixa sequelas: Diana fica cega. E sua imagem pública começa a esmorecer, uma vez que todo o mundo testemunha quando ela assassina Medusa.

Na sequência, mais uma aventura mitológica. Outra vez, Diana (ainda cega) é obrigada a lutar em nome de Pallas Atena. Desta vez, pelo comando do Monte Olimpo. Se Diana perder do gigantesco Briareos, dezenas de vezes maior e mais forte do que ela, a embaixadora morre. Se vencer, Pallas Atena destrona Zeus e é a nova líder do Monte Olimpo. Por “honra” e “tradição”, a heroica Mulher-Maravilha é reduzida a bucha de canhão.

Ela vence os desafios, claro. E após sete edições, volta a enxergar. Enquanto isso, Pallas Atena se consolida como senhora do Monte Olimpo, e Ares, o inimigo da Mulher-Maravilha, também dá um golpe de Estado e derruba Hades, assumindo o “reino abissal” (equivalente na mitologia grega ao reino dos mortos). Também é confirmado que a Moça-Maravilha 2 (Cassandra Sandsmark) é filha de Zeus, o outrora todo-poderoso.

Nada que vá mudar muito a mitologia da heroína amazona.

Assassina

 “Wonder Woman” nº 220, de outubro de 2005 (no Brasil, “Superman Batman” nº 15, editora Panini, de setembro de 2006), presenciou uma mudança radical na mitologia da Mulher-Maravilha.

Antes, uma contextualização. A DC Comics começava a integrar ainda mais seus personagens. A ideia dela, assim como de sua rival Marvel, passou a ser, na primeira década do século 21, investir em grandes sagas que afetassem todos (ou quase todos) os títulos da editora.

Assim, a DC começou a publicar, em 2005 (e a preparar terreno, muitos anos antes), o prólogo “Contagem Regressiva para a Crise Infinita”. A “Crise Infinita” em si saiu de dezembro de 2005 a junho de 2006, e depois foi sucedida por “52” (maio de 2006 a maio de 2007); “Contagem Regressiva para a Crise Final” (maio de 2007 a abril de 2008); e, claro, “Crise Final” (julho de 2008 a março de 2009).  E isso, evidentemente, reverberou na revista da Mulher-Maravilha.

Em outubro de 2005, ocorria “Contagem Regressiva para a Crise Infinita”, e o grande vilão era um homem chamado Maxwell Lord, que tinha a capacidade de dominar mentes de super-humanos. Lord dominou o mais poderoso de todos, Superman, e o fez combater ferozmente a Mulher-Maravilha. A embaixadora amazona reagiu: quebrou o pescoço de Lord. Assassinou mais uma vez.

A morte foi filmada e enviada a redes de televisão do mundo inteiro. Esse assassinato trouxe longas repercussões para a Mulher-Maravilha. Batman não a perdoou; foi julgada em um tribunal em Haia (Holanda); suas histórias tornaram-se um longo drama em consequência desse ato.

Ao mesmo tempo do julgamento, Themyscira é atacada violentamente pelos vilões Omac (ligados a outra série especial da DC, chamada “Crise Infinita”). A solução encontrada não condiz com o caráter orgulhoso e guerreiro das amazonas: elas, assim como todo o panteão olímpico que as protegia, fogem para outra dimensão.

Diana é absolvida no julgamento de Maxwell Lord. Ao mesmo tempo, decide não fugir com suas irmãs e deusas, ficando no “mundo dos homens”. Agora, entretanto, ela não é mais princesa ou embaixadora: afinal, seu país não existe mais.

Mais um ciclo se encerrava em sua mitologia. Em mais de um sentido: a revista “Wonder Woman” foi mais uma vez cancelada. Sua segunda série chegou ao fim no nº 226, publicado em abril de 2006. Foi a última das 33 histórias escritas por Greg Rucka.

Poucos meses depois, em agosto, a terceira série mensal de “Wonder Woman” estaria de volta. Com uma surpresa: Diana não era mais a Mulher-Maravilha. Uma quinta heroína ocuparia o posto.

A quinta Mulher-Maravilha

Há duas maneiras de contar a quantidade de Mulheres-Maravilha: no mundo real (mesmo que a história tenha sido posteriormente desconsiderada pela editora) e na cronologia do Universo DC, sempre sujeita a reviravoltas, viagens no tempo e retcons (continuidade retroativa).

Até 2006, o mundo real havia conhecido quatro Mulheres-Maravilhas:

  1. Princesa Diana de Themyscira (que até 1985 também atendia pela identidade secreta de Diana Prince), que ocupou o posto quase ininterruptamente desde 1941;
  2. a ruiva e arrogante Orana, que ostentou o título de Mulher-Maravilha por apenas duas edições em 1978 (ver capítulo 6);
  3. a também ruiva e arrogante Ártemis de Bana-Mighdall, que por nove edições, de 1994 a 1995, tornou-se a terceira heroína a levar o título (ver capítulo 8);
  4. Rainha Hipólita de Themyscira, também por nove edições, entre 1997 e 1998 (ver capítulo 8).

Já na cronologia do Universo DC, valem apenas três, uma vez que as aventuras de Orana, por serem pré-Crise nas Infinitas Terras, foram desconsideradas:

  1. Rainha Hipólita de Themyscira que, graças a uma viagem no tempo, foi a primeira Mulher-Maravilha, atuando por oito anos durante a Segunda Guerra Mundial;
  2. Princesa Diana de Themyscira que, também em uma viagem no tempo para a Segunda Guerra Mundial, atuou por um único dia como Miss América;
  3. Ártemis de Bana-Mighdall, que atuou com os títulos de Réquiem e Shim’Tar.

E assim, fica aberto o caminho para a entrada em cena da nova Mulher-Maravilha: Donna Troy, a quinta Mulher-Maravilha da história, mas a quarta do Universo DC.

Donna Troy, a Mulher-Maravilha

A irmã gêmea da princesa Diana tem dois nomes: princesa Donna de Themyscira e, no mundo dos homens, Donna Hinckley Stacey Troy-Long.

Donna Troy é uma das encarnações da irmã gêmea mágica, criada pela feiticeira Magala, para a princesa Diana não se sentir tão só.

Nessa encarnação, foi uma órfã humana salva pelos Titãs da mitologia grega e levada a um planeta distante, onde foi criada como semideusa. Atuou como super-heroína com três identidades: Moça-Maravilha, Troia e Darkstar. Fez parte dos supergrupos Turma Titã, Novos Titãs e Darkstars (espécie de policiais universais).

Quando a terceira série da revista “Wonder Woman” estreia, em agosto de 2006, a editora DC ainda estava imersa no período de “megassagas” que influenciam todas as suas revistas. Neste caso, era um ponto de partida: “Um Ano Depois”. Todas as histórias de seus personagens deram um salto de um ano no futuro, e muita coisa aconteceu neste período. Por exemplo: Batman e Superman sumiram. Não atuavam mais.

A princesa Diana, ainda afetada pela repercussão de ter assassinado Maxwell Lord, também sumiu. Mas a Mulher-Maravilha, não. Donna Troy assumiu o papel da irmã gêmea, como é apresentado no monólogo que abre as primeiras três páginas da nova revista:

“Eu nasci da magia… filha das amazonas… campeã dos deuses. Abençoada com seus dons, fui escolhida para disseminar sua vontade num mundo que não acredita neles. Lutar por paz num mundo de guerra. Disposta a morrer pela missão, mas nunca matar. Uma missão impossível… mas não vou deixar que isso me atrapalhe. Meu nome é Donna Troy e sou a nova Mulher-Maravilha.”

A vida de Donna Troy como Mulher-Maravilha, entretanto, dura pouco: apenas cinco edições, na saga “Quem é a Mulher-Maravilha?”, criada por Allan Heinberg e Terry Dodson.

A série tem o mérito de resgatar a nostalgia e de homenagear antigos personagens e séries da mitologia da princesa amazona, ao mesmo tempo em que plantava novas sementes para as futuras histórias.

Assim, a Mulher-Maravilha/Donna se vê forçada a enfrentar uma equipe enorme de vilões clássicos: Mulher-Leopado; Giganta; Doutor Psycho; Doutora Veneno; Doutora Cyber; o semideus Hércules; rainha Cléa da Atlântida; Gundra, a Valquíria; Osira; Máscara; Kung, o Assassino; Duque da Farsa; Cisne de Prata; Ministro Inverno; Homem-Ângulo; e a poderosa feiticeira Circe.

Ao seu lado, a Mulher-Maravilha/Donna conta com Steve Trevor (agora vice-secretário de Defesa dos Estados Unidos); Nêmese (o herói e agente secreto Thomas Andrew Tresser, criado em 1980 e, a partir desta saga, membro coadjuvante fixo do universo da Mulher-Maravilha); Moça-Maravilha; Sociedade da Justiça; Liga da Justiça; Robin; e a agente secreta… Diana Prince.

Sim, pela primeira vez na nova cronologia da Mulher-Maravilha, a heroína adota uma identidade civil: Diana Prince. Não à toa, o mesmo nome que usava no período pré-Crise nas Infinitas Terras. A nova identidade foi uma criação de Batman e Superman para que Diana continuasse combatendo o crime mesmo, sem o uniforme da Mulher-Maravilha.

Ao fim de “Quem é a Mulher-Maravilha?”, Diana volta a ser a Mulher-Maravilha, mas com a identidade secreta de Diana Prince, agente do Departamento de Assuntos Meta-Humanos dos Estados Unidos, onde convive com Tom Tresser, o Nêmese, que, com o tempo, torna-se seu novo par romântico.

Além disso, Diana ganhou uma “bênção-maldição” de sua inimiga mortal, Circe: agora, quando está sem uniforme, ela é uma humana normal, sem poder algum. Apenas após seu “giro mágico” para vestir o uniforme, ela recupera seus dons de força, velocidade e voo.

Uma nova fase… Que não duraria. Tudo mudaria muito na segunda década do século 21.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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