Começou com um TCC sobre o Batman. Projeto realizado, tudo certo… E se dermos um passo além? O passo adiante de Laluña Machado foi enorme. Ao lado de Diego Moureau, ela lança “História dos Quadrinhos: EUA”, com mais de 900 páginas de uma rica história que envolve personagens onipresentes como o Batman a obras singulares como “Habibi”, de Craig Thompson.

Entrevistei, separadamente, os dois autores e escrevi sobre o livro lá na minha coluna semanal na TV Cultura. Mas achei legal transcrever as entrevistas completas aqui no site.

Laluña Machado é historiadora e pesquisadora brasileira da área de histórias em quadrinhos. Graduada em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e pós-graduada em Docência e Ensino de História pela Uniamérica. Em 2019, ao lado da pesquisadora Dani Marino, Laluña lançou o livro “Mulheres & Quadrinhos” (editora Skript), que ganhou em 2020 dois prêmios HQ MIX (Melhor Livro Teórico é Melhor Mix). Também pela Skript, foi coautora dos livros “Os Cavaleiros das Trevas” (indicado ao HQMIX de 2021) e “O Homem que Ri” (sobre os 80 anos do Coringa).

Para ler a entrevista com Diego Moureau é só clicar aqui. Abaixo, a entrevista com Laluña Machado:

O foco do livro são os quadrinhos criados especificamente nos Estados Unidos. O que te levou a escolher precisamente este tema?

Na verdade, foi algo sem pretensão. O meu TCC sobre o Batman tem base absoluta na história dos quadrinhos nos EUA e a dissertação sobre Maus do Diego, tem a mesma qualificação. Nós decidimos fundir as pesquisas visando a importância que a editoração de quadrinhos na terra do Tio Sam tem em outros países.

Quanto tempo você e o Diego Moreau levaram pesquisando? E o que foi mais difícil para vocês?

Eu diria que uma vida. Somando a minha pesquisa com a do Diego, chegamos a 20 anos de dedicação a vida acadêmica usando os quadrinhos. O livro é o resultado conjunto de leitores que se tornaram estudiosos.

A maior dificuldade foi encaixar datas, relatos, versões de editores e quadrinistas com entrevistas, livros teóricos e docs. A história tem muitos requadros, isso não seria diferente na história dos gibis.

Durante a pesquisa, o que você aprendeu que mais te surpreendeu – ou o que você mais gostou de aprender?

O mais importante pra mim foi a descoberta de inúmeras artistas, roteiristas, editoras, coloristas, personagens femininas… Mulheres que foram apagadas da bibliografia dos quadrinhos.

Você vê paralelos entre o desenvolvimento da história dos quadrinhos nos EUA e no Brasil? Ou há mais diferenças do que semelhanças?

Acho que por ser (em parte) uma arte universal, claro que vamos identificar semelhanças. Porém, os gringos não têm Marcelo D’Salete, Fefê Torquarto, Rafael Calça, Manu Cunhas, Hugo Canuto, Bianca Pinheiro, Fabi Marques, Beatriz Fharmi, Lu Cafaggi… e tantos outros.

Nossas singulares são gritantes.

Se você pudesse escolher apenas três obras de HQs dos EUA por sua importância, quais você escolheria?

* “Minha Coisa Favorita é Monstro”, de Emil Ferris

* “The Sandman Universe” – de Bilquis Evely, Neil Gaiman, Nalo Hopkinson, Kat Howard, Si Spurrier e Dan Watters

* “Strip AIDS USA: A Collection of Cartoon Art to Benefit People With AIDS”, de Trina Robbins

Se você pudesse escolher apenas três obras de HQs dos EUA das quais você mais gosta, quais você escolheria. Por quê? (Eu sei que essa pergunta é complicada: a minha resposta de hoje provavelmente seria diferente da minha resposta de sete dias atrás…)

Pergunta difícil. Ainda mais que eu absorvo o quadrinho de forma orgânica e isso vai mudando com o tempo.

Contudo, minha apreciação por “Habibi”, do Craig Thompson, não muda. A obra me abraça tanto com a arte incrível, incrível mesmo… E o roteiro é muito bem escrito, além de toda a pesquisa que foi desenvolvida.

Sempre entendi que os quadrinhos norte-americanos podem ser divididos em três grandes tipos, que acabam se dividindo mais ou menos assim nas livrarias locais: as tiras de jornais; os quadrinhos do gênero de super-heróis, que acabaram se desenvolvendo tanto que viraram algo à parte; e os demais títulos, de underground para adultos a HQs infantis. Essa divisão faz sentido para você?

Absurdamente. Quadrinhos é uma mídia e vertente cultural como qualquer outra. Cinema tem categorias, literatura tem categorias, música tem categorias… isso também vale para os gibis.

Essas divisões ficam mais nuas nos EUA, porque de alguma forma lá é tido como um “farol” para a arte sequencial. Ou seja, é algo mais visualizado, mais percebido por ter atingido uma gama de consumo interno e externo que alguns países não conseguiram.

Quais são seus próximos projetos?

Adélia Prado termina seu poema “Ex-Voto” com o seguinte verso: “A uns, Deus os quer doentes, a outros quer escrevendo”.

Continuarei escrevendo.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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