A Patrulha do Destino sempre foi a versão dos X-Men que não deu certo. Ambas surgiram praticamente ao mesmo tempo: a DC lançou a Patrulha em junho de 1963, e a Marvel publicou os X-Men pouco tempo depois. A princípio, ambas fracassaram nas vendas. Os mutantes da Marvel levaram alguns anos para se tornarem um sucesso: foi apenas em 1975, quando Chris Claremont assumiu os roteiros da equipe – ele ficou lá por impressionantes 16 anos.

Já o caminho da Patrulha do Destino foi bem mais longo, e também só mudou radicalmente graças a um roteirista acima da média. Grant Morrison assumiu a revista mensal da equipe em 1989 e lá ficou por quatro anos – o suficiente para criar uma saga marcante não só na DC Comics, mas no gênero dos super-heróis.

As histórias da Patrulha do Destino na fase de Morrison foram alucinadas, criativas, surpreendentes. Ótimas. Cada desafio para o grupo era, ao mesmo tempo, gigantesco (esse vilão é mais poderoso que um deus…) e surreal (um supergrupo baseado em sexo? Sério?).

Morrison pegou personagens que já existiam há décadas e resolveu dar mais camadas a eles. Niles Cauder, fundador e líder do grupo, deixou de ser “apenas” um gênio científico e virou um humano egoísta, egocêntrico e capaz de atitudes condenáveis.

O Homem-Robô e o Homem-Negativo, pilares da equipe, também ganharam novos contornos, com o primeiro mais traumatizado e enfurecido e o segundo, mais apático e imprevisível (no bom e no mau sentidos).

A fase também criou uma nova geração de personagens, alguns deles muito bem aproveitados na ótima série de TV (assumidamente inspirada na fase do Morrison, que é nominalmente citado pelo grande vilão da trama na primeira temporada):

  • Crazy Jane (interpretada pela carismática Diane Guerrero) tem 64 personalidades habitando um mesmo corpo, com maneiras de falar, hobbies e até poderes diferentes;
  • Danny: o super-herói não-binário de uma grande editora, com uma personalidade doce e cativante, e um jeito de falara todo particular;
  • Flex Mentallo: uma homenagem ao inocentes personagens criados nas histórias que moldaram o gênero dos super-heróis – inocentes, invencíveis, quase bobos, com uma origem secreta sem o menor sentido.

Personagens (antigos e novos) profundos e cheios de falhas; vilões superpoderosos e aparentemente invencíves; tramas surreais e divertidas… E, acima de tudo, um ótimo narrador amarrando tudo. É esta fase que a Panini reuniu em uma edição omnibus de 1.288 páginas. O volumaço já está em pré-venda, mas aviso: custa R$450…

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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