A notícia pura e simples é: a Skript colocou em pré-venda “Krazy Kat (1916-1918)”, livrão que reune as tiras dominicais desta série de humor precursora dos quadrinhos, obra do norte-americano George Herriman (1880-1944). Mas é mais do que isso.

A fórmula de “Krazy Kat” era simples: o rato Ignatz Mouse arremessava tijolos na cabeça do/a inocente Krazy Kat. Ou gata: Herriman nunca revelou seu gênero, nem em entrevistas. O Guarda Pupp, um cachorro, procurava evitar a agressão ou, quando não conseguia, punia Ignatz, deixando-o alguns dias na cadeia. Este é um tipo de humor que destoa completamente dos tempos de hoje, físico e aparentemente simples. Mas é mais do que isso.

“Krazy Kat” é uma tira engraçada, anárquica e surpreendente. Sabe-se que há um rato, um gato e um arremesso de tijolo, mas nunca o que vai acontecer. E Herriman conseguiu manter esse ritmo por mais de três décadas: a tira surgiu em 1913, virou dominical (formato maior) em 1916) e manteve-se até 1944, ano da morte do autor.

As histórias, as diagramações e até a gramática toda peculiar na fala dos personagens: tudo era original, fora da caixinha, especialmente nos primeiros anos. Não havia, naquele momento, uma maneira padrão de narrar histórias em quadrinhos. As “comics” norte-americanas estavam em formação: havia inocência e liberdade para os artistas. Tudo era permitido, se houvesse criatividade e talento. É o caso, por exemplo, do americano Winsor McCay e do nipo-holandês Gustave Verbeek (que fez carreira nos EUA).

Herriman ousou, experimentou, brincou. Não à toa, virou uma referência para os quadrinistas das gerações seguintes. Muitos dos tijolos que compõem o início da estrada dos “comics” norte-americanos foram jocosamente arremessados por Ignatz Mouse.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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