Neste final de semana haverá o DC FanDome, a convenção da DC Comics em que a editora apresenta suas grandes novidades – tanto nos quadrinhos como nas telas. Este ano, por motivos óbvios (alô, Covid), será exclusivamente online.

Como sou fã da editora, estou aproveitando esse evento como desculpa para falar dela. Ontem, apresentei meus cinco filmes favoritos com personagens da DC. Hoje, apresento cinco grandes momentos dela, em ordem cronológica.

1938 – O surgimento do Superman

A editora DC Comics surgiu em 1935 com outro nome e um foco diferente dos super-heróis. Chamava-se National Publications, e o gênero publicado era… qualquer coisa, contanto que vendesse. Simplesmente iam tentando.

Lançada em fevereiro de 1935, a primeira revista era a “More Fun Comics” (“mais quadrinhos divertidos”, em tradução livre), com HQs infantis e de humor. Mas a DC também publicava muita aventura, fantasia e histórias policiais, onde surgiram personagens como o detetive durão Slam Bradley.

E aí veio 1938, com Jerry Siegel e Joe Shuster criando o Superman. Com ele, houve a invenção do gênero dos super-heróis e a reinvenção da DC Comics: ela percebeu que o que vendia eram heróis com máscara, poderes e identidades secretas. Resolveu criar mais heróis. E aí vieram Batman, Mulher-Maravilha, Flash, Lanterna Verde, Gavião Negro e mais algumas dezenas… Foi a chamada Era de Ouro dos quadrinhos norte-americanos.

1961 – “Flash de Dois Mundos

Os super-heróis da DC brilharam nos anos 30 e 40. Já na década de 50…

No início dos anos 60, a maioria de seus personagens fora relegada ao ostracismo – o todo-poderoso Lanterna Verde, por exemplo, arranjou um cachorro (Listrado, o Cão Maravilhoso) para ver se conseguia fazer sucesso. Não rolou. Apenas a “trindade” ainda tinha relevância: Superman, Batman e Mulher-Maravilha.

A DC decidiu criar mais personagens, como o Caçador de Marte. Mais do que isso: resolveu aproveitar nomes antigos, mas com conceitos mais modernos. Assim, surgiram novas versões de Lanterna Verde, Flash e Gavião Negro. Funcionou perfeitamente, e assim se deu a Era de Prata dos quadrinhos (somada aos títulos da Marvel lançados por Stan Lee e Jack Kirby).

No auge desse sucesso, a DC decidiu não apagar seu passado. Assim, inventou o conceito de “multiverso”: múltiplas terras paralelas com cronologias diferentes. Lembra os personagens da Era de Ouro? Eles continuavam na ativa, mas em outra dimensão. Ou seja, as versões originais (e mais inocentes) de Lanterna Verde, Flash e Gavião Negro ainda existiam e vivam suas aventuras. O Superman original envelheceu e agora tinha cabelos brancos. O Batman engatou o namoro com a Mulher-Gato e…

O conceito desse multiverso (até hoje presente) foi apresentado na divertida história “Flash de Dois Mundos”, lançada em 1961. Cortesia de Gardnex Fox e Carmine Infantino, a aventura explica o que são as tais dimensões paralelas e mostra o primeiro encontro entre Jay Garrick (o Flash da Era de Ouro) e Barry Allen (o da Era de Prata).

Esse conceito é tão influente na DC até hoje que… Bom, espere para ver o filme do Flash que vai ser lançado em 2022. Tem tudo a ver com o “Flash de Dois Mundos”.

1985 – “Crise nas Infinitas Terras

Lembra que eu falei que a Era de Prata deu certo e que a DC abraçou o conceito do “multiverso” e suas terras paralelas? Então, deu certo até demais. Virou exagero: uma dimensão em que os super-heróis são vilões e vice-versa! Um mundo em que os nazistas venceram a guerra! Uma Terra em que os filhos de Superman e Batman viraram heróis… e rivais! Um universo diferente em que… Não acabava nunca.

Para o leitor médio, estava difícil acompanhar tanta cronologia paralela. Para o fanático, também. Aí Marv Wolfman e George Pérez criam esta minissérie especial (quando esse conceito ainda era uma novidade) e botaram ordem na casa. A partir de 1986, quando saiu o último número, a DC passaria a ter um único universo, uma única Terra, apenas um Superman…

Até a próxima lambança editorial, claro.

1993 – Um selo para histórias adultas: Vertigo!

Conto aqui essa história com muitos detalhes. Em resumo, A DC começou um novo caminho em 1987: aos poucos, colocou um selo de “sugerido para leitores maduros” na capa de alguns de seus títulos, que estavam sob o comando da excelente editora Karen Berger.

O primeiro foi “Monstro do Pântano” (em 1987), com histórias escritas por Alan Moore; depois vieram “Hellblazer”, estrelado por John Constantine; “Sandman”, de Neil Gaiman etc.

O lançamento oficial como um selo à parte da DC voltado para leitores maduros ocorreu em março de 1993, com estes e mais três títulos: “Shade”, “Homem-Animal” e “Patrulha do Destino”.

Por que isso foi tão importante? Porque os quadrinhos mensais de super-heróis deram um salto de qualidade. Tudo ficou diferente. Os adultos norte-americanos podiam ler quadrinhos e os comentar em público numa boa (os europeus e asiáticos nunca tiveram esse problema).

A Vertigo lançou algumas das melhores séries dos quadrinhos norte-americanos até hoje. Se você ainda não leu “Monstro do Pântano”, de Alan Moore; “Sandman”, de Neil Gaiman; e “Homem-Animal”, de Grant Morrison, se dê esse presente…

2019 – “Crise nas Infinitas Terras” na TV!

Os super-heróis nunca brilharam tanto como no século 21. Os quadrinhos ainda existem (e vão bem, obrigado), mas são as séries e filmes que fazem mais sucesso (e dão mais lucro).

No cinema, a Marvel nadou de braçada: seu MCU (Universo Cinematográfico Marvel) é maravilhoso.

Na TV… Tanto a Marvel como a DC têm bons e maus momentos. Mas a DC marcou um golaço com o crossover “Crise nas Infinitas Terras”. A princípio, seria uma história que seria narrada por meio de episódios de cinco séries diferentes (o que já é muito bacana): “Arrow”, “Flash”, “Supergirl”, “Legends of Tomorrow” e “Batwoman”. Eles formam o núcleo do chamado “Arrowverse”, o universo compartilhado da DC na TV.

Mas foram além. Lembra do conceito do “multiverso” e suas dimensões paralelas, criado em 1961? Ele foi usado para prestar homenagens, muitas homenagens. Atores de séries (canceladas ou em andamento) e até de filmes antigos retornaram a seus papéis.

Assim, o que era para ser uma história ligando cinco séries, uniu, de maneira reverente, 19 (!) séries ou filmes – que eu listo abaixo, em ordem cronológica, a partir do ano em que a série começou ou o longa foi lançado.

Dezenove séries ou filmes interligados! Quem vai conseguir quebrar esse recorde?

1966 – “Batman”, seriado com Adam West e Burt Ward

1989 – “Batman”, longa dirigido por Tim Burton

1990 – “Flash”, seriado

2001 – “Smalville”, seriado que teve dez temporadas

2002 – “Aves de Rapina”, seriado

2012 – “Arrow”, seriado que deu origem ao “Arrowverse”

2014 – “Constantine”, seriado

2014 – “Flash”, seriado que faz parte do “Arrowverse”

2015 – “Supergirl”, seriado que faz parte do “Arrowverse”

2016 – “Lúcifer”, seriado que está na quinta temporada

2016 – “Legends of Tomorrow”, seriado que faz parte do “Arrowverse”

2017 – “Freedom Fighters: The Ray”, animação lançada na internet

2017 – “Liga da Justiça”, longa que integra o DCEU (sigla em inglês para Universo Estendido DC – o universo da DC nos cinemas)

2018 – “Raio Negro”, seriado que faz parte do “Arrowverse”

2018 – “Titãs”, seriado

2019 – “Monstro do Pântano”, seriado

2019 – “Batwoman”, seriado que faz parte do “Arrowverse”

2019 – “Patrulha do Destino”, seriado

2020 – “Stargirl”, seriado que seque havia estrado quando “Crise” foi ao ar

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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