O ComicBook noticiou hoje a morte de Dennis O’Neil, um dos mais importantes escritores e editores do Batman (e da DC Comics). Ele tinha 81 anos.

O’Neil criou muitas grandes obras para o Homem-Morcego, mas foi especialmente importante nos anos 70, quando fez com que o personagem voltasse a ser mais sombrio, dramático e heroico.

Batman sempre foi um personagem soturno, carregado pelo luto do assassinato dos país. Aí veio o seriado de TV, estrelado por Adam West, que era uma comédia. O sucesso foi tanto que os quadrinhos ficaram mais leves, engraçados e distantes do personagem criado por Bill Finger e Bob Kane. Foi O’Neil quem comandou a volta do personagem a uma fase mais sombria e introspectiva – da qual nunca mais se desviou.

Entre muitas histórias, O’Neil criou o ambíguo vilão Ra’s Al Ghul – um homem tão inteligente que descobriu a identidade secreta do Batman. Enquanto os “bat-vilões” usavam uniformes coloridos e queriam roubar bancos (às vezes dando dicas por meio de charadas), Ra’s queria salvar o ecossistema do planeta Terra – matando 80% da humanidade, essa eterna poluidora que desperdiça recursos naturais e só pensa em si.

(Se você pensou no vilão Thanos, da Marvel, vale dizer que ele foi criado em 1973, dois anos depois de Ra’s Al Ghul.)

Não foi só com o Batman que o editor e escritor brilhou. Ao lado do artista Neal Adams, O’Neil escreveu uma fase histórica da dupla Arqueiro Verde e Lanterna Verde – na época, eles dividiam a mesma revista, enquanto hoje cada um tem seu próprio título.

O adjetivo “histórico” pode soar exagerado, mas não é. O Código de Ética dos quadrinhos americanos exigia que certos temas não fossem abordados. Ainda nos anos 70, O’Neil e Adams deram um chega pra lá nessas regras e criaram ótimas histórias sobre preconceito e racismo (te parece atual?).

Ainda foram além: foi nas aventuras de Arqueiro Verde e Lanterna Verde que, pela primeira vez, o gênero de super-heróis abordou o tema das drogas. Havia uma pessoa viciada no núcleo dos heróis. Mais do que isso: um deles estava se drogando.

A questão da droga não foi apresentada com leveza ou com uma metáfora. Como você pode ver na imagem acima, já estava na capa. Um desenho de impacto entregava que Speedy, o sidekick do Arqueiro Verde, estava viciado.

O drama em torno de Speedy foi um dos pontos altos dos quadrinhos de super-heróis naquela década. Mas vale também destacar a reação do Arqueiro Verde, um super-herói, teve ao ver o que estava acontecendo com Speedy – que era seu “ward” (quase um filho adotivo).

A primeira reação do Arqueiro Verde foi bater no Speedy.

Sim, a história não era só sobre tráfico de drogas e vícios, mas também sobre aceitação de problemas, ajudar alguém e comunicação entre pais e filhos. Uma HQ incrível e atual até hoje.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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