O japonês Osamu Tezuka (1928-89) é considerado o pai, o tio, o primo e o avô dos mangás. Não à toa, seu apelido é “deus-mangá” (ou “deus dos mangás”). Vai ser difícil falar sobre alguém que teve um impacto tão grande no universo dos quadrinhos.

Ou talvez seja o contrário. Sua obra foi tão enorme e variada que talvez tentar resumi-la já dê conta de despertar o interesse pelo trabalho dele.

Tezuka trabalhou por mais de quatro décadas com mangás e animês (quadrinhos e animação japoneses). Vários fatores ajudam a explicar por que ele é tão fundamental:

  • A qualidade dessas obras (claro!);
  • O quanto produzia: ele era obsessivo, e criava tanto que dava a impressão de não parar para dormir ou comer. Seu trabalho em quadrinhos soma cerca de 700 títulos e 170 mil páginas;
  • A variedade: Tezuka sempre transitou entre gêneros. Fez trabalhos voltados para meninos, meninas, adultos, obras experimentais…

Todos os mangakás (artistas japoneses de quadrinhos) que vieram depois dele foram influenciados por suas criações, como “Astro Boy” e “A Princesa e o Cavaleiro”. Até mesmo os mangakás que quiseram romper com elas: os artistas que criaram os gekigás, mais realistas e voltados para adultos, dominavam a arte criada por Tezuka para justamente ir por outros caminhos.

Eu tive uma professora na faculdade de Letras que dizia: não basta ler os melhores livros sobre Euclides da Cunha, é preciso ler “Os Sertões”. Se o resumo que eu apresento aqui embaixo te fizer se interessar um pouco mais por Tezuka, dormirei feliz (e sonharei com o Astro Boy e a princesa Safiri).

  • Anos 40: começa a lançar seus primeiros trabalhos, publicados em jornais locais da região de Osaka, a 500 quilômetros de Tóquio. Essas obras misturavam humor (“O Diário de Ma-Chan”), ficção científica (“Os Misteriosos Homens Subterrâneos”) e aventura (“A Nova Ilha do Tesouro”).
  • Anos 50: seus quadrinhos já fazem sucesso, e novos artistas o buscam para pedir orientação. Muda-se para a metrópole Osaka e, em 1953, passa a dividir apartamento com outros mangakás, como Shotaro Ishinomori (de “Kamen Rider”) e a dupla Hiroshi Fujimoto e Motoo Abiko (criadores de Doraemon).
    Também é em 1953 que Tezuka lança “A Princesa e o Cavaleiro”, obra que popularizou os mangás voltados para o público feminino (conhecidos como “shoujo”). Outras obras marcantes da época são o infantil “Kimba – O Leão Branco”, o filosófico “Fênix” e “Astro Boy”, o fantástico robô superpoderoso que tem forma e comportamento de um menino meigo.
    Tezuka casou-se em 1959 com Etsuko Okada; logo depois, o casal se mudou para a capital, Tóquio.
  • Anos 60: década em que surgem suas primeiras animações – experimentais, críticas e bem-humoradas. Também adaptou mangás seus para a TV, como “Astro Boy”, “Kimba” e “Fênix”. Nos quadrinhos, destaque para o terror “Dororo”.
  • Anos 70: outra década de grande foco nas animações, como o longa “Cleópatra”. Nos mangás, publicou obras que foram se voltando cada vez mais para o público adulto, como os dramas “Maria de Yakeppachi” e “Ayako” e a biografia “Buda”.
    Em 1971, a editora Shueisha criou o Prêmio Tezuka para novos artistas de mangá.
  • Anos 80: mais experimentos na animação, como “Jumping” e “A Lenda da Floresta”. Nas HQs, publicou um de seus melhores trabalhos: o drama “Adolf”, ambientado na Alemanha nazista.
    Tezuka morreu em 1989, aos 60 anos.
  • Anos 90: o Museu Osamu Tezuka é inaugurado em sua cidade natal, Takarazuka, em 1994.
    Em 1997, surge um novo prêmio, que é voltado para todo tipo de artistas, não só principiantes: o Prêmio Cultural Osamu Tezuka.
  • Século 21: seu trabalho continua sendo publicado no exterior. Ganhou, por exemplo, dois HQ Mix, o Oscar dos quadrinhos brasileiros, e cinco Eisner Awards, premiação máxima da nona arte nos EUA.

ps – Este post é o quinto de uma série chamada “Quadrinistas Eternos”. Amanhã será a vez da norte-americana Ramona Fradon. Já publicados:

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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