A HBO anunciou para o ano que vem a “Snyder Cut”. Ou seja, uma nova versão do caríssimo filme da Liga da Justiça lançado nos cinemas em 2017.

Originalmente diretor e roteirista do filme, Snyder foi vítima de uma tragédia pessoal e teve de deixar o projeto. Seu substituto foi o ótimo Joss Whedon, que fez o que pôde para amarrar as pontas soltas e lançar o longa. Nos créditos, Snyder ficou como diretor e Whedon, como roteirista, embora ele tenha dirigido muitas cenas que foram ao ar.

Parte dos fãs de cinema ou de quadrinhos comemorou o anúncio do “Snyder Cut”. Outros detestaram. Eu não odiei a ideia: tem gente querendo ver, então que seja lançado e deixe todos felizes!

Mas eu não serei um deles. Snyder, na minha opinião, gosta de repensar os personagens à sua maneira. Por exemplo: seu Superman mata. E deixa o próprio pai morrer, quando podia impedir. Seu Batman (nos quadrinhos, o melhor detetive do mundo), é uma toupeira de tão imbecil.

Não faço questão de ver as distorções que ele vai impor aos demais membros da Liga da Justiça. Poderemos ter um Aquaman morrendo afogado, um Cyborg que não gosta de tecnologia e não sabe ligar a TV e uma Mulher-Maravilha que é contra o voto feminino. Dentro do mundo do Snyder, tudo é possível, menos respeitar os personagens.

Por isso, vou falar aqui do filme tosco da Liga da Justiça, dirigido por Félix Enríquez Alcalá, lançado em 1997.

Antes, um contexto. A Liga da Justiça foi criada nos anos 60 para reunir, em uma única HQ, os maiores heróis da editora DC Comics: Superman, Mulher-Maravilha, Batman, Flash, Lanterna Verde e Aquaman. Apenas o sétimo era desconhecido do público: Jonn Jonnz.

Nas décadas que se seguiram, por mais que se trocasse o editor e o roteirista da revista, os “sete magníficos” continuavam lá. Podiam até dar um tempo, mas sempre voltavam. No final dos anos 80, entretanto, isso acabou, e os dois novos roteiristas tiveram de lidar com um bando de zé-ninguém. Batman e Jonn Jonnz estavam lá, é verdade, mas poucos conheciam Flama Verde, Dama do Gelo, Gladiador Dourado, Doutora Luz e Besouro Azul, por exemplo. Até o Lanterna Verde era um “genérico”: Guy Gardner, em vez do consagrado Hal Jordan.

O resultado ficou simplesmente maravilhoso.

Tinha tanto personagem desconhecido que apareceu até uma espécie de cachorro como Lanterna Verde

J.M. DeMatteis e Keith Giffen, os roteiristas, criaram uma série de histórias divertidas, com muita aventura e piadinhas. O filme de 1997 se baseia nessa época: “bora” fazer humor com a Liga da Justiça!

O resultado ficou simplesmente péssimo.

Sem orçamento, o filme contou com efeitos especiais que eram horríveis. O roteiro emulava uma sitcom, com o problema de as piadas não terem graça. Os personagens eram simpáticos, mas pouco conhecidos do público – o Flash era a exceção. Ao lado dele, estavam um Lanterna Verde (Guy Gardner), Átomo, Jonn Jonnz e a dupla Fogo & Gelo (o nome delas é esse mesmo). Eles enfrentaram um vilão e tanto! O Coringa? Não. Lex Luthor? Não. Darkseid? Não. O cientista maluco Dr. Eno.

Enfim, a DC só acertou a mão ao fazer humor com seus heróis com a série “Legends of Tomorrow”, em cartaz até hoje.

E quem é melhor, o filme tosco da Liga de 1997 ou o “Snyder Cut”? Como ainda não vi este último, impossível dizer. Mas se minha TV só estiver pegando dois canais, com um passando a Liga de 1997 e o outro, “Snyder Cut”, eu saio e compro uma TV nova.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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