Na série Quadrinistas Eternos, eu já falei nesta semana de Schulz e o Snoopy e de Quino e a Mafalda. Hoje, a ideia é abordar a dupla norte-americana Stan Lee e Jack Kirby e seu personagem mais famoso: o Homem de Ferro. Ou seria o Thor? Quarteto Fantástico? Pantera Negra? X-Men? Vingadores?

Seja quem for, é fácil falar sobre eles: a editora Marvel, tal como a conhecemos, inclusive a do cinema, foi criada por esses dois super-quadrinistas.

Essa história é demais: tem o Quarteto Fantástico, o Doutor Destino e… o pirata Barba Negra (?!)

A influência de Lee e Kirby sobre fãs de super-heróis é tamanha que, para leitores como eu, é chato escrever apenas um artigo sobre eles. Porque há muito a ser abordado: os personagens que criaram; as melhores histórias; etc. Hoje, como é um texto apenas introdutório, falarei um pouco deles e de alguns personagens. Ao longo da semana, vou me aprofundar em outros aspectos.

Quando Stan Lee morreu, uma infinidade de pessoas, nerds ou não, fãs de quadrinhos ou não, se manifestaram. O que mais me tocou (desculpe, mas não lembro o autor da frase) foi um brasileiro que escreveu: “Lee ajudou a me educar. Suas histórias pregavam valores como respeito, carinho, amor e honestidade. Sinto como se tivesse perdido um pai.”.

Sim, o Hulk era cinza

Eu não sinto Lee como um pai (estou muito bem servido com o meu, o luso-angolano Tonhão), mas concordo que havia uma questão de valores em suas histórias que era muito interessante.

  • Reed Richards (Senhor Fantástico), que não era lá muito forte, era meu ídolo maior: ele valoriza, acima de tudo, a inteligência, o gosto por aprender e a valorização dos estudos.
  • Donald Blake (Thor) trazia dolorosas lições de humildade.
  • As HQs da Marvel sempre traziam ações de ajudar o próximo, independentemente de se ele é seu amigo, conhecido ou mesmo se é “boa pessoa”. Isso vale para qualquer herói da dupla Lee-Kirby, mas vou citar apenas os Vingadores (supergrupo que já teve como membro todos os heróis criados por eles).
  • Os X-Men! Aquela pessoa que você não conhece direito pode ser diferente (o Professor Xavier é cadeirante, o Fera tem um problema nos membros), mas é teu igual. Para quem leu X-Men, racismo e homofobia são impensáveis.

Já ouvi de muitos amigos que são histórias “superficiais”, “mastigadas”. Eu acho que estão usando a régua do século 21 para compreender histórias e questões dos anos 60. Além disso, não me incomoda ler uma história que tenha como pano de fundo questões de responsabilidade, estudos, humildade, empatia e racismo.

Eu coração X-Men

Jack Kirby também é conhecido como “The King” (“O Rei”). Ele já brilhava antes de Lee, quando criou, ao lado de Joe Simon, o Capitão América, e continuou maravilhoso depois, quando voltou para a DC Comics e inventou o Quarto Mundo, Darkseid, Senhor Milagre, Grande Barda…

Sobre o trabalho de Kirby com Lee, para ser mais específico, vale dizer que não é à toa que Lee (que era o editor) sempre colocava O Rei para ilustrar os primeiros números das revistas novas.

Sua arte dinâmica, colorida e criativa amplificava a qualidade de todo roteiro que transpunha para desenhos. Acho que se Kirby pegasse os super-heróis que criei na infância (Brilho da Estrela, Everest, Superfemme e Capitão do Ar – o que eu tomava no leite para batizar um personagem como Capitão do Ar?) e os amarrasse em uma história, a HQ ia ser um baita sucesso.

Selecionei algumas artes de Kirby para colocar neste texto, mas é claro que não fazem jus ao talento dele. É preciso ler uma história inteira (ou mais de uma) para ver o ritmo frenético de ação que ele colocava no papel, a intensidade de cada página, os cenários e figurinos extravagantes – e deslumbrantes.

A primeira aparição do Thor

Há um esqueleto no armário na dupla Lee-Kirby que nunca será devidamente esclarecido para nós, meros mortais.

Depois que saiu da Marvel, Kirby dizia que era ele quem escrevia as histórias, além de ilustrá-las, e que Lee apenas redigia os diálogos. Segundo ele, o nome de Stan aparecia como roteirista pelo simples fato de que ele era o chefe e colocava o que quisesse nos créditos.

Lee, por sua vez, dizia que as histórias vinham de reuniões semanais em que ele dava os pontos de partida e principais cenas, e Kirby desenvolvia a arte a partir daí.

O que resta para nós, fãs, é um ponto de interrogação sobre essa questão, e vários pontos de exclamação para os maravilhosos personagens que criaram: Pantera Negra, Doutor Destino, Magneto, Hulk…

ps – Este post é o terceiro de uma série chamada “Quadrinistas Eternos”. Na semana que vem, após o longo feriado prolongado e antecipado, será a vez do “japonês-holandês-americano” Gustave Verbeek.

Os textos já publicados abordaram os seguintes artistas:

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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