A Les Éditions Albert René anunciou, no final do ano passado, que Asterix, criação máxima da dupla René Goscinny e Albert Uderzo, terá um novo roteirista a partir do ano que vem: o francês Fabcaro, pseudônimo de Fabrice Caro.

Fabcaro será o quarto roteirista de irredutível gaulês: Goscinny escreveu todas as histórias desde a a criação do personagem, em 1959, até morrer em 1977 – estas aventuras foram reunidas em 24 livros, todos ilustrados por Uderzo.

Com a morte do parceiro e amigo, Uderzo assumiu os roteiros – foram 10 novos livros e, aqui entre nós, com alguns altos e baixos.

A grande novidade veio em 2013, quando uma nova dupla assumiu a série: Jean-Yves Ferri (roteiro) e Didier Conrad (ilustrações) publicaram mais cinco aventuras, sempre em anos ímpares (acima, a cena de uma delas). Agora, em 26 de Outubro de 2023, será lançado o primeiro álbum escrito por Fabcaro, ainda com Conrad desenhando.

E o que podemos esperar de Fabcaro? O que sabemos sobre ele? Para ser sincero, não muito. Ele ainda é inédito no Brasil, mas não no nosso idioma: os amigos portugueses já tiveram o privilégio de ler vários livros dele.

O que sabemos é que Fabcaro tem uma bibliografia que começou com muito material autobiográfico – como “Talijanska”, “Droit dans le Mûr” e “Like a Steak Machine”, todos entre 2006 e 2009. Ele também tem trabalhos experimentais (como “Zaï zaï zaï zaï”, de 2015, que virou filme cinco anos depois) e muito humor, como “Les annonces en BD” e a paródia do Zorro “Z comme Don Diego”. Seus roteiros beiram trazem críticas sociais e, por vezes, beiram o absurdo.

(Dois parágrafos acima, temos uma imagem de “Zaï zaï zaï zaï”; logo abaixo, o trailer do filme.)

A criatividade de Fabcaro não fica restrita aos quadrinhos: também é romancista, guitarrista e compositor, tendo participado de uma banda de rock (Hari) e lançado um álbum de música conceitual (“Les Amants de la rue Sinistrose”).

“Quero manter-me fiel ao caderno de encargos — mesmo que a expressão não seja muito bonita — ou, em todo caso, ao que torna Astérix tão charmoso. Com ingredientes clássicos, como os anacronismos, os trocadilhos”, disse Fabcaro à agência de notícias AFP. “E sobretudo, ser fiel aos personagens.”

Um palpite meu: Asterix é um gigante, um dos maiores personagens de quadrinhos do mundo. Acredito que não dá para inovar demais – pelo menos, não no primeiro álbum. O humor algo absurdo e o experimentalismo, por exemplo, não devem dar as caras. Trocadilhos, anacronismos e críticas sociais, possivelmente. E esta frase dele aqui me alegrou: “E sobretudo, ser fiel aos personagens”. Tomara!

ps – A editora já liberou uma pequena sinopse da nova história (vi no jornal luso “O Público“): “Um estranho estado de espírito parece ter tomado conta dos habitantes da aldeia, para grande consternação de Astérix e Obélix”.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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