A editora Veneta colocou em pré-venda “Mukanda Tiodora“, o novo álbum de Marcelo D’Salete. Entre outros feitos, o paulistano ganhou o Eisner Awards, o Oscar dos quadrinhos norte-americanos, por “Cumbe”, obra que retrata a escravidão no Brasil. O novo livro olha, mais uma vez, para o passado brasileiro como uma maneira de entender o presente.

O resumo da Veneta sobre esta nova obra: “Em meados do século XIX, a população negra seguia construindo seus espaços na cidade de São Paulo. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos conseguira construir a Igreja do Rosário, e em torno dela promovia celebrações com grande presença africana. A área de matas conhecida como Campos do Bexiga, em torno do córrego Saracura, um refúgio para fugitivos da escravidão, já se transformava em base de uma comunidade negra. Graças ao trabalho escravo, o café enriquecia a cidade, mas nas fazendas surgiam mais e mais quilombos, mais e mais rebeliões… (…)

‘Mukanda Tiodora’ joga luz sobre a São Paulo da década de 1860. Época em que circulavam nos corredores da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco não apenas as ideias abolicionistas, mas também intelectuais negros como o aluno Ferreira de Menezes e esse vulcão chamado Luiz Gama, que ousava enfrentar o escravismo nos tribunais e também em publicações como o Diabo Coxo, que fundou com Angelo Agostini, pioneiro dos quadrinhos brasileiros.”

Há dois anos, entrevistei D’Salete para o Seis Minutos, site que infelizmente não está mais no ar. A entrevista foi interessante, e acho que vale a pena resgatar este pequeno trecho:

Falar sobre racismo e sobre o negro na sociedade brasileira… São temas que abrem ou fecham as portas no Brasil?
Falar sobre racismo e história de negros no Brasil não é simples nem fácil. Mas imagino que temos, no Brasil, um público muito interessado em conhecer mais sobre essa história justamente devido ao vazio sobre o assunto.
Acho que esse público tem se expandido bastante nos últimos anos. Então, não diria que é um tema que hoje fecha portas. Acho que, quando é bem realizado, há um público interessado em conhecer essas histórias.
Mas é claro que é preciso pensar muito bem na forma como você vai tratar esse tema, seu modo de contar, bem como no tema que você escolhe.

“Falar sobre racismo e história de negros no Brasil não é simples nem fácil”. Por que não é fácil? O que atrapalha?
É possível falar sobre racismo, mas nem sempre essa fala tem ressonância na sociedade brasileira devido a estratégias históricas de silenciamento e violência da população negra.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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