Já mencionei por aqui: Alberto Breccia (1919-93), nascido no Uruguai e radicado na Argentina, foi um dos grandes quadrinistas da América do Sul – e do mundo.
Com um estilo de ilustração absolutamente pessoal e nada óbvio, Breccia conseguia narrar histórias com talento e surpresas. Se ele tinha de desenhar um homem andando, acredite: a ação pode ser simples, mas a arte seria complexa. Ele não pegava atalhos – nem caminhos retos, aliás. Breccia preferia uma arte extremamente trabalhada e detalhista, difícil de ser executada.
Difícil também, aliás, é este trabalho a que ele se propôs, agora lançado em livro no Brasil: “Lovecraft/Poe” (editora Companhia das Letras, tradução de Bruno Cobalchini Mattos) é, como o nome indica, uma coletânea de adaptações de histórias de H. P. Lovecraft e Edgar Allan Poe.
Ainda não li esta HQ. Mas se conheço Breccia (e me conheço), terminarei a leitura com vontade de mais obras destes três grandes artistas: Poe, Lovecraft e, claro, o próprio Breccia.
Abaixo, a sinopse da editora:
“No início dos anos 1970, durante uma viagem de Madri a Milão, Alberto Breccia compra uma edição barata com os contos de H.P. Lovecraft. O episódio o transporta imediatamente para a sua adolescência em Buenos Aires, quando nas páginas da edição argentina da revista Weird Tales entrou pela primeira vez em contato com o universo daquele que, segundo Neil Gaiman, é “o começo de toda a literatura de horror”. Nos anos seguintes, Breccia criaria versões para clássicos de Lovecraft e também de Edgar Allan Poe, testando diversas variações estilísticas e demonstrando seu domínio excepcional do desenho e da composição.
Das experiências com colagem e monotipo de “O chamado de Cthulhu” à montagem cinematográfica e minimalista de “O coração delator”, dos tons grotescos de “William Wilson” ao clima expressionista de “O estranho caso do Sr. Valdemar”, o virtuosismo e a desenvoltura de Breccia assombram. Exemplo extraordinário da complexa relação entre literatura e quadrinhos, o mundo dos dois mestres do horror ressurge mais perturbador do que nunca. “Eu não queria oferecer ao leitor apenas a minha visão”, anotou Breccia, “também queria que cada leitor acrescentasse algo de seu, que utilizasse a base que eu fornecia para revesti-la com seus próprios temores, com seu próprio medo”.”