Hoje é Dia do Pais. Vou aproveitar para lembrar aqui uma história que me marcou muito.

Você conhece o Homem-Borracha? Ele é quase sempre retratado como alguém muito poderoso (seu corpo pode assumir diferentes formas e consistências) e sua alma é leve. Ou seja, ele faz piada o tempo todo.

Para mim, ele é subestimado quando retratado apenas um herói engraçado. Bem menos profundo do que o personagem inventado por Jack Cole (1914-58) em 1941. Aquele, antes de tudo, era um vilão arrependido (uma inovação entre as dezenas de super-heróis coloridos que surgiram na época). O personagem emanava compaixão e humanidade em suas aventuras – além, claro, do seu humor.

Enfim, há uma história do Homem-Borracha que se passa no futuro. Foi lançada na revista “The Kingdom: Offspring”, de 1999, escrita por Mark Waid e ilustrada por Frank Quitely. Infelizmente, é inédita no Brasil.  

A aventura é narrada pelo filho dele, Ernie. Nascido com os mesmos poderes (e o mesmo humor), o rapaz seguiu a carreira heroica do pai.

Ernie idolatra o Homem-Borracha. Tanto que seu codinome heroico é Offspring (que pode ser traduzido como Filho). E eles sempre foram muito próximos.

Lembra quando Ernie era criança e deu uma linda festa de aniversário? Papai-herói passou o dia se transformando em todos os brinquedos possíveis, a ponto de deixar a criançada exausta até para comer o bolo.

Lembra quando Offspring era adolescente e levou um buquê para a namorada? O Homem-Borracha era as flores.

Lembra quando Ernie e sua namorada foram para o quarto ter um momento de privacidade? O Homem-Borracha era uma almofada sorridente – que os deixou em paz, claro.

Então.

O Homem-Borracha tem uma conversa com a nora, Micheline. E percebe que talvez tenha passado da linha algumas vezes… Sempre presente, amigo de verdade, teme que não tenha deixado espaço para o filho.

Por isso, o Homem-Borracha vai até Offspring, e eles têm o seguinte diálogo:

Pai – Eu conversei com Micheline. E eu… Eu… Gostaria de pedir desculpas.

Filho – Por quê?

Pai – Ela foi direta comigo, Ernie. Ela disse que, na sua vida inteira, eu nunca te dei nada que realmente valesse a pena.

Filho – Você está brincando? Você me deu tudo!

Pai – Eu nunca te deixei sozinho.

Filho – Não. Nunca deixou mesmo. Obrigado!

A história termina com este abraço:

Dedicado a meu pai, Tonhão: amigo, presente e super.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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