Na última semana, escrevi aqui na coluna Quadrinho Falado sobre a adaptação de Preacher para a TV, e como ela toma um caminho diferente dos quadrinhos originais de Garth Ennis para dialogar mais diretamente com as forças da nova mídia em que se encontra. Nesta sexta (13), quero aproveitar para sugerir outra série inspirada na arte sequencial que também faz mudanças interessantes (e, curiosamente, também está disponível no streaming Amazon Prime Video): The Tick.

The Tick é a segunda série de TV em live action (houve, também, uma série animada) produzida com base no personagem criado pelo cartunista Ben Edlund como mascote da editora New England Comics. A história acompanha as aventuras de um super-herói de visual similar a uma pulga, azul, invulnerável e extremamente forte (vivido de forma genial por Peter Serafinowicz). Acompanhado do amedrontado humano Arthur (Griffin Newman, lembrando um jovem Woody Allen), ele enfrenta supervilões (em especial o grotesco Terror, vivido por Jackie Earle Haley, que também trabalha em Preacher), enquanto tenta viver uma vida cotidiana funcional, a despeito de uma latente falta de brilhantismo intelectual e personalidade muito expansiva.

Enquanto, nos quadrinhos, The Tick tem tons exagerados tanto em seu visual, quanto na sua narrativa (é possível lembrar-se dos designs chamativos de Dick Tracy, por exemplo), a série da Amazon Prime Video, criada por Ben Englund, reimagina o personagem sob uma estética mais própria ao cinema de super-heróis que conhecemos: com um pé mais firme no conceito do realismo fantástico. Fica para trás, também, o clima de sitcom que a primeira série de TV inspirada nos quadrinhos, protagonizada pelo canastrão hilário Patrick Warburton, trazia.

O que ambas as séries preservam em comum é o objetivo de satirizar as obras maiores da Marvel e DC Comics com uma abordagem muito mais leve, divertida singela (tal qual o próprio Tick, um romântico idealista incapaz de ver o “copo meio vazio”) do que o de costume. Embora a primeira temporada dessa nova versão tenha momentos de tom um pouco conflitante, com violência explícita sendo contraposta a um humor inocente, a segunda acerta em cheio no equilíbrio, entregando um comentário emocionante sobre a essência do heroísmo que projetamos nessas nossas histórias de “homens com cueca por cima da calça”.

É uma pena que a série tenha sido cancelada após só dois anos de produção, mas felizmente ela termina com um final que funciona como encerramento, ainda que prematuro. Ainda assim, não deixe que a duração abreviada te desanime: The Tick é divertidíssima e uma perfeita alternativa para quem busca uma série diferente, inspirada em quadrinhos.

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