Houve uma pandemia que se alastrou, tão rapidamente que foi difícil acreditar, e o mundo nunca mais foi mesmo.

Felizmente, isso aconteceu em uma ficção, e não no mundo em que vivemos. Que bom, né?

A série “Y – O Último Homem” foi publicada pela Vertigo, a divisão de quadrinhos adultos da DC Comics, de 2002 a 2008. Foram 60 números, todos escritos por Brian K. Vaughan e ilustrados por Pia Guerra e José Marzan Jr.

Vaughan tem um pé nos quadrinhos de super-heróis – criou “Fugitivos” para a Marvel e a excelente “Ex Machina” (para mim, sua obra-prima; voltaremos a ela em outra ocasião) para a DC. Por isso, a estética e o ritmo lembram a de revistas dessas duas editoras. Mas não, não haverá heróis de capa voando por aí.

“Y” começa com alguns mistérios: todos os homens do mundo morreram da noite para o dia, menos um – Yorick, o protagonista. Como a sociedade se reorganiza a partir desse momento? As fronteiras das nações continuam válidas? As autoridades locais (polícia, por exemplo) continuam operantes?

E o que diabos aconteceu para todos os homens morrerem de repente?

Será que ser o último homem em um planeta habitado apenas por mulheres é bom? O protagonista Yorick, esse aí amarrado a uma camisa de força, poderia responder

Edição após edição, as surpresas, os problemas, as aventuras, os mistérios se sucedem. E você acaba fisgado por aquele mundo quase caótico, em que as pessoas estão a um passo do desespero: luto, isolamento, imprevisibilidade, ansiedade e uma dificuldade danada para viver em uma sociedade tão diferente daquela a que elas estão acostumadas.

Não à toa, “Y” levou, em seus sete anos de existência, três Eisner Awards, o Oscar dos quadrinhos norte-americanos: melhor série (em 2008); melhor escritor (para Vaughan, 2005); melhor equipe de arte (Pia Guerra e Marzan Jr., 2008)

O segredo de “Y” é a sua trama. Vaughan não é um escritor qualquer. Nos últimos 15 anos, foi quatro vezes eleito pelo Eisner Awards o melhor roteirista do ano. Ele cria suspense na dose certa, bem como personagens enigmáticos, complexos e cativantes. Seu roteiro te joga para dentro da série e te faz pensar “ih, rapaz, o que vai acontecer agora?”.

“Quer saber o que vai acontecer agora? Vou te dar uma dica: olhe para a minha arma…”

“Y” está sendo adaptada para a televisão, com Ben Schnetzer, Diane Lane (esqueça que ela viveu a Martha na bobagem “Batman vs. Superman”, é ótima atriz), Imogen Poots e Lashana Lynch nos papéis principais. Se seguir o ritmo da série em quadrinhos, será ótimo.

Você pode esperar a série de TV, é claro. Mas eu iria para a boa e velha leitura – a Panini já lançou a HQ no Brasil em dez volumes, de 2009 a 2012, e depois em edição de luxo (capa dura, cinco números com o dobro de páginas) de 2017 a 2019.

Afinal, pandemia por pandemia, esta não tem contraindicação e, se te deixa ansioso, é apenas para saber o que vai acontecer no próximo capítulo.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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