Eu juro que estava pensando em fazer uma lista de filmes bacanas para sugerir (e farei, mas não hoje). Mas a minha memória, que costuma ser fraquíssima (ou que almocei hoje? Aliás, será que almocei?), também é malvada. E, em vez de boas adaptações de quadrinhos para o cinema, ela me trouxe… Bom,  me trouxe esses aí.

Tem DC Comics, Marvel, atores bons em filmes ruins e a pior cena da história do Cinema – Ed Wood, o pior cineasta de todos os tempos, teria vergonha de a exibir em alguma sala com público pagante. Se os espectadores tivessem entrado de graça, ele também teria vergonha. Na verdade, acho que ele não a exibiria nem em um cinema vazio.

1 – “Spirit”

Quadrinista de grande talento, Frank Miller resolve dirigir um filme que adapta um personagem clássico das HQS: o Spirit, criação máxima de Will Eisner. O que poderia dar errado? Tudo.

O filme, lançado em 2008, parece uma sucessão de cenas sem nenhuma conexão entremeadas por um desfile de lindas mulheres (Scarlett Johansson, Paz Veja, Eva Mendes, Jaime King) usando fantasias estranhas.

Nem Samuel L. Jackson, o eterno Nick Fury, salvou essa bomba.

2 – “Howard – O Super-Herói”

Quando você pensa em quadrinhos sendo bem adaptados para o cinema, o que te vem à cabeça? A Marvel, certo? Pois até a Marvel já errou.

“Howard, o Super-Herói”, de Willard Huyck, estreou em 1986. O produtor era ninguém menos do que George “Star Wars” Lucas, e o sempre bacana Tim Robbins estava no elenco. Mas algo deu errado, e o filme foi um fracasso. Por “algo” deu errado você pode entender o roteiro, os efeitos especiais ou até o próprio protagonista: aquele pato ficou estranho demais…

O filme levou o Troféu Framboesa de Ouro de pior filme, roteiro, efeitos especiais e nova estrela. Além disso, passou a figurar em tudo o que era lista de pior adaptação de quadrinhos – como esta.

3 – “Liga da Justiça”

Você assistiu ao filme da Liga da Justiça? Não me refiro ao dirigido por Zack “Todos Meus Heróis São Serial Killers” Snyder, mas ao primeiro mesmo, lançado por 1997 por Félix Enríquez Alcalá.

Com orçamento para qualquer coisa menos efeitos especiais, maquiagem, cenário e figurino, o filme foi, digamos, fraco. Os heróis são o de menos: a trama é uma comédia. Uma quase comédia, aliás: não tem graça.

Há dois ótimos atores no elenco: Miguel Ferrer, de Twin Peaks, vive o poderoso vilão Doutor Eno, também chamado de Homem do Tempo.   E a super-heroína brasileira Fogo (cuja identidade secreta é Beatriz da Costa) é vivida pela atriz Michelle Hurd, que nos últimos anos atuou nas séries “Demolidor” e “Jessica Jones” (como a promotora durona Samantha Reyes), “Blindspot” (Shepherd Briggs) e “Star Trek: Picard” (Raffi Musiker).

4 – “Mulher-Gato”

Um filme da Mulher-Gato, a anti-heroína da DC Comics? Que legal! Mas, veja bem: ela não é Selina Kyle, mas Patience Phillips (quem?); o uniforme não tem nada a ver com nenhuma coisa que ela já vestiu; e ela tem superpoderes, o que a personagem dos quadrinhos nunca teve.

Vem cá, tem certeza de que este filme é sobre a Mulher-Gato?

Dirigido por Pitof e lançado em 2004, o longa abocanhou quatro Framboesas de Ouro: pior filme, diretor, atriz e roteiro.

5 – “Aço”

Um gênio científico que usa uma armadura altamente tecnológica para combater o crime! Quem não gosta de Tony Stark, o Homem de Ferro, grande herói da Marvel Comics?

Pois é, mas estamos falando aqui de John Heny Irons, o Aço, um personagem igualzinho a Stark, mas criado pela DC Comics algumas décadas depois. Confesso que torço um pouco o nariz para ele.

O filme, lançado em 1997 e dirigido por Kenneth Johnson, é estrelado por Shaquille O’Neal, um espetacular jogador de basquete, campeão da NBA (quatro vezes), mundial e olímpico. Mas… ator?

Bônus especial – Momento Martha

A DC iniciou a sua ideia de um universo coeso no cinema com “Superman – O Homem de Aço” de (2013) e “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016), ambos obrados por Zack Snyder.

Nesses filmes, é possível ver um Superman que, em vez de preservar a vida, deixa o pai morrer*; assassina sem pensar duas vezes; e, dependendo da batalha, não se importa com mortes colaterais. É como se fosse um filme sobre o Flamengo, mas o time retratado usa um uniforme laranja e não joga futebol, mas críquete.

E sabe o Batman, o herói mais inteligente dos quadrinhos da DC? No filme ele é burro feito uma porta, capaz de ser facilmente engando por Lex Luthor.

É difícil escolher um pior momento favorito nesses filmes. O jovem Clark Kent deixando o pai morrer é um candidato, mas a cena em que Batman e Superman lutam até a morte, mas param e viram “melhores amigos desde a infância” quando descobrem que suas mães se chamam Martha é de levantar e sair do cinema (eu tentei, mas não me deixaram).

Com o “Momento Martha”, a DC criou um novo patamar. Quando algo é inacreditavelmente ruim (uma montadora que monta um carro mas esquece de colocar as rodas, as portas e o motor, por exemplo), ele pode ser chamado de “Momento Martha”.

* Sim, você leu certo. Mas faço questão de repetir: no seu primeiro filme com o personagem, Zack Snyder apresenta o Superman cruzando os braços e deixando seu pai, Jon Kent, morrer. É um “Momento Martha” antes de o “Momento Martha” ter sido criado.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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