Poucas obras retrataram tão bem um trecho a história das HQs no Brasil quanto o ótimo “A Guerra dos Gibis“, que Gonçalo Junior lançou há duas décadas e que a Conrad está relançando, em versão ampliada, agora em outubro.

Quando eu disse “poucas obras” eu estava sendo comedido. Para mim, é o melhor livro que já saiu sobre a história das HQs no Brasil, mesmo que retrate um trecho específico dela. Em suas mais de 500 páginas, Gonçalo Junior a saudável competição entre Adolfo Aizen e Roberto Marinho, dos anos 30 aos 60, para conquistar leitores. Saudável para nós, é claro. Afinal, quanto mais opções de qualidade, melhor.

Ao mesmo tempo, houve a imbecil “guerra” contra quadrinhos feita por pseudointelectuais que achavam que as HQs prejudicavam a formação intelectual de seus leitores. Essa “luta”, vista com olhos de hoje, é ridícula. Mas, na época, era não só ridícula como perigosa. Vou dar só um exemplo e deixar o resto para você ler no livro. Carlos Lacerda combatia as revistinhas alegando que, se nada fosse feito, as próximas gerações brasileiras seriam “sucessivas fornadas de cretinos”.

É curioso ver como tanta gente gastou tempo, energia e dinheiro para mobilizar essa ridícula campanha contra os quadrinhos. E, pior ainda, como tanta gente se deixou envolver.

Isto torna o livro de Gonçalo ainda mais rico. Ele ajuda a não nos esquecermos da luta que foi para que as pessoas tivessem, em última instância, acesso a cultura e diversão. Parabéns a ele por ter conseguido retratar isto de uma maneira tão envolvente quanto este “A Guerra dos Gibis”.

Abaixo, trecho da sinopse da editora:

“Escolhido como o melhor livro teórico sobre quadrinhos no Troféu HQMix 2005, A Guerra dos Gibis trata-se de uma devastadora reportagem histórica de Gonçalo Junior sobre a paranoia das campanhas para proibir a leitura de quadrinhos no Brasil entre as décadas de 1930 e 1960, e chega em versão integral, revista e ampliada pela Editora Conrad em 24 de outubro.
Adolfo Aizen e Roberto Marinho, principais personagens desta história, são os maiores responsáveis pela chegada ao Brasil de uma novidade americana que a partir dos anos de 1930 se tornou uma febre entre crianças e adolescentes e mobilizou presidentes da República, juristas, parlamentares, intelectuais, educadores, escritores, magnatas e artistas: as histórias em quadrinhos. Embora fizessem a festa da garotada e de editores como Aizen e Marinho, os gibis causavam arrepios nos guardiões da moral, polemistas de plantão, tubarões da imprensa e raposas da política, que, em coro, pediam censura urgente às revistinhas. Outros viam potenciais educativos nos gibis: Gilberto Freyre queria uma versão da Constituição de 1946 em quadrinhos para difundir os direitos dos cidadãos brasileiros. Grandes figuras da vida nacional, entre 1933 e 1964, se engajaram na heroica Guerra dos Gibis.
Do Suplemento Infantil de Adolfo Aizen aos catecismos de Carlos Zéfiro, Gonçalo Junior narra uma aventura repleta de absurdos, intolerância, preconceito e ferocidade, feita de heróis e vilões de papel e de carne e osso. Aventure-se neste livro inesquecível.”

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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