Há anos, Alan Moore se recusa a receber dinheiro e emprestar o nome a adaptações de obras escritas por ele. É o caso de Watchmen, filme e série de TV, e o filme de V de Vingança, por exemplo. Só que ver o nome do escritor britânico assinando um longa-metragem não é um sonho impossível: é algo que se realizará tão pouco seja lançado oficialmente o filme The Show.

Ele conta a história surrealista da busca de um homem (Tom Burke) por um artefato perdido, enquanto mergulha em uma versão doentia da cidade inglesa de Northampton. O longa foi escrito por Moore e conta com a atuação em carne, osso e barba do próprio escritor. Rodado entre 2018 e 2019, mas prometido desde 2014, teve o primeiro trailer oficial divulgado neste mês.

Sem data de estreia, The Show contou com poucas exibições oficiais ao redor do mundo, até agora. Na conta dele do Instagram, o diretor Mitch Jenkins parece indicar uma busca ainda em curso por compradores e distribuidores para o longa. Ainda assim, não é pouca a expectativa pelo lançamento, entre os fãs de Moore. Afastado dos quadrinhos, o autor ressurge em outra mídia. Será que com o mesmo brilho? De acordo com o site norte-americano Polygon, não.

O jornalista Jesse Hassenger pôde conferir a produção em um festival de cinema europeu, e cravou: “A presença de Moore mais ou menos resume a experiência de assistir a esse filme; ele é envolvente de se ver e ouvir, com uma voz ricamente sonora, mas ainda assim um pouco tedioso de se passar tanto tempo junto”.

O protagonista de The Show, Tom Burke

Quem acompanha mais ferrenhamente os regionalismos inseridos em algumas das obras passadas de Moore, entretanto, deverá encontrar em The Show elementos ricos para mergulhar ainda mais na mente do artista, já que um retrato subjetivo e soturno de Northampton, cidade natal dele, é o grande mote do filme.

“É uma cidade muito incomum. A maioria da violência, na história da Inglaterra, a maioria das nossas guerras internas, aconteceram em Northampton”, explicou Moore, ainda em 2014. Na mesma entrevista, voltou a atacar as adaptações de Hollywood para as obras dele.

Alan Moore, como aparece em The Show

“A coisa de que eu sou completamente contra é adaptação. O fato que Holywood só consegue reciclar o que já foi feito ou adaptar coisas de mídias que não foram pensadas como filme”, afirmou, à época. É um argumento radical, mas que faz sentido quando pensamos que uma obra idealizada para um formato específico deverá sempre, logicamente, encontrar a melhor forma dela ali, fazendo com que qualquer adaptação seja inerentemente desnecessária.

Mas e se essa máxima valer, também, para um gênio? Moore se provou mestre na narrativa da Arte Sequencial. E se sua intrincada linha de pensamento criativo simplesmente não se traduzir bem à sétima arte? Que The Show terá uma perspectiva original, ao menos segundo a métrica do autor, podemos confiar. Mas se será melhor que as tão abominadas releituras que ele ataca, aí teremos de esperar (indefinidamente) para ver.

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