Um homem bom é capaz de ser rei? A questão central de Pantera Negra, o filme de 2018, foi respondida por Chadwick Boseman. E a resposta, “sim”, não foi dada por ele só na pele de T’Challa, mas dentro e fora das telas, em diferentes papéis e ações do ator que nos deixou na última sexta-feira (28).

De um lado, o homem: um jovem que viu o sonho de ser jogador de basquete abatido pela morte de um amigo, mergulhou na arte como escape para a dor e conseguiu achar nela uma vocação. Do outro, o rei: um artista predestinado a contar histórias-chave sobre e para o avanço das discussões de raça e desigualdade em Hollywood, mas que ainda assim não se deu por satisfeito: preferiu extrapolar a ficção e tornar-se exemplo e inspiração na vida real, até o último segundo em que pôde experimentá-la.

O reinado de Chadwick nas telas começou como o primeiro astro negro do beisebol norte americano, Jackie Robinson, em 42 – A História de Uma Lenda; se expandiu quando encarnou, com direito a todos os tiques e manias, o ícone do funk James Brown em Get on Up – A História de James Brown; se consolidou quando reviveu um dos momentos mais poderosos da história norte-americana como o primeiro juiz negro da Suprema Corte do país em Marshall; e finalmente atingiu seu apogeu como o Pantera Negra.

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Fora delas, começou com Chadwick, já vítima de um câncer, rodando o mundo não só promovendo esses, outros filmes e as discussões sociais suscitadas por eles, como também visitando crianças que sofriam com a mesma doença.

Seguiu com o astro brilhando em programas de humor, exibindo sua ética de trabalho impecável também para fazer rir, sempre ciente do papel de referência que tinha cultivado; impactando sutilmente mais e mais pessoas com uma mensagem de igualdade. Se consolidou quando, poucos meses antes de morrer, lá estava Chadwick: fazendo campanha pela arrecadação de recursos a profissionais da saúde em meio à pandemia do novo coronavírus.

Mesmo debilitado, mesmo sabendo que a aparência fraca de um homem famoso por viver um imponente super-herói do cinema provocaria comentários desagradáveis. E atingiu seu apogeu com a triste notícia de sua morte, deixando ainda mais claro, por meio das mais diversas homenagens, o impacto que teve na vida de milhões de pessoas ao redor do mundo.

O que definia o Pantera Negra de Chadwick Boseman era, na verdade, o que definia o próprio ator: ser um bom homem. Esse era seu superpoder. Em Destacamento Blood, o melhor filme de 2020 e uma obra que ficará marcada como espécie de testamento da grandeza de Chadwick, é a ausência de Stormin’ Norman, o personagem interpretado por ele, que define sua importância ímpar para o futuro daqueles que o conheceram. Com o próprio Boseman não será diferente: ele foi e será, para sempre, enorme.

Nota do autor: A coluna Quadrinho Falado continua indo ao ar semanalmente, sempre às sextas-feiras, aqui no Hábito de Quadrinhos. Neste caso, entretanto, se fez necessária a publicação extraordinária em reverência a um grande ator e ícone da cultura pop.

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