Há quatro anos, publiquei aqui no Hábito de Quadrinhos uma série de 15 artigos sobre aqueles que considero os maiores quadrinistas contemporâneos. Um deles eu tive o prazer de conhecer pessoalmente: o maltês Joe Sacco, o maior nome de jornalismo em quadrinhos do mundo, na minha opinião.

Em 2011, Sacco veio ao Brasil e foi sabatinado pela dupla UOL-Folha (foi quando o conheci). Na época, ele já era conhecido por obras impactantes sobre guerras em andamento, como “Palestina”, “Área de Segurança: Goražde” e “Uma História de Sarajevo”. De lá para cá, continua um autor em alto nível, mas agora mudou levemente o foco. A Companhia das Letras colocou em pré-venda “Pagar a Terra“, seu novo trabalho de não-ficção.

Sacco voltou a campo pra conhecer pessoas e situações e relatar o que vê, mas agora não está em um campo de guerra (ou próximo a ele). O jornalista-quadrinista foi ao Canadá ouvir as famílias diretamente afetadas pela exploração da terra em busca de petróleo, minérios e afins.

Como as metralhadoras e explosões de uma guerra estão ausentes, pode parecer que foi uma grande mudança de foco. Não foi, é pequena: Sacco se esmera para mostrar o ponto de vida dos injustiçados, dos lesados, daqueles de são o “rodapé da história”, na opinião megalomaníaca de quem não se importa. Enfim, Joe Sacco se importa a dar voz a quem mais precisa ser ouvido.

Abaixo, a sinopse da editora:

“Os Dene vivem no vasto vale do rio Mackenzie, no noroeste do Canadá, desde tempos imemoriais. A terra é o elemento central do seu modo de vida, e acreditam, como em muitas outras culturas nativas, que são eles que pertencem à terra e não o contrário.
Mas a região onde vivem abriga valiosos recursos minerais: petróleo, gás e diamantes. Com a mineração vieram empregos e investimentos, mas também a abertura de estradas, os resíduos tóxicos, a construção de oleodutos. Tudo isso afetou de modo brusco o lugar, e os costumes são a cada dia mais deformados por um governo que reivindica a posse da terra, por um sistema educacional que não leva em conta as tradições nativas, pelos estragos do alcoolismo e pela tragédia das dívidas bancárias que só crescem.
Da mais importante voz do jornalismo em quadrinhos, Pagar a terra coloca em foco uma galeria variada de personagens — caçadores, chefes indígenas, ativistas, sacerdotes, entre outros — para narrar uma história brutal sobre o poder do dinheiro, sua dependência, um povo em conflito com o dito progresso, a extinção de uma cultura e sua luta pela sobrevivência.”

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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