O Disney+ estreou na semana passada “What If…?” (“O que aconteceria se?”), série animada inspirada na revista homônima da Marvel, surgida em 1977. A premissa é bem bacana: são os mesmos personagens, mas surgidos em contextos diferentes. Por exemplo: o que aconteceria se o Dr. Destino, eterno inimigo do Quarteto Fantástico, fosse um super-herói? Ou se o Homem-Aranha tivesse uma filha?

A ideia é ótima e as possibilidades, literalmente infinitas. Por exemplo, o que aconteceria se os Vingadores fossem formados aqui bo Brasil? Quem seriam seus membros? Mancha Solar, Magma, Garota-Tubarão e Conjuradora? (São os únicos super-heróis brasileiros da Marvel das quais me lembrei agora…)

Enfim, essa introdução foi para dizer que a DC Comics, grande rival da Marvel, tem um “What If” para chamar de seu. Dois, na verdade.

“Histórias alternativas” sempre existiram no gênero dos super-heróis. Podiam ser, por exemplo, um sonho ou a imaginação de um personagem dentro do cânone oficial da editora.

Em 1958, por exemplo, a DC publicou a história “Superman na Casa Branca”. Nela, Jimmy Olsen, o eterno melhor amigo de Clark Kent, imagina como seria se o Superman fosse eleito presidente dos Estados Unidos. Dos anos 50 aos 80, um montão de ideias fora da caixinha foram exploradas pelos artistas da DC. Por exemplo:

  • Lois Lane se casa com o super-herói que tanto ama: Bruce Wayne, o Batman! (imagem dois parágrafos acima);
  • O órfão Bruce Wayne é adotado por um simpático casal de fazendeiros e se torna Bruce Kent, irmão de Clark Kent;
  • O Superman se divide em dois: o Superman Azul e o Superman Vermelho. E vai além: o Superman Azul se casa com Lana Lang, enquanto o Superman Vermelho vai ao altar com Lois Lane… (imagem que abre este texto);
  • O casamento entre Batman e Batwoman – filho de ambos, Bruce Wayne Jr. se torna o segundo Robin (logo abaixo).

A DC não tomou o cuidado da Marvel de criar uma revista só para as “histórias imaginadas”. Apenas bem mais tarde, começou a coletar antologias com essas inocentes e divertidas lançadas principalmente entre os anos 50 e 80 sob o título de “Imaginary Stories”. Mas esse é um rótulo posterior dado a elas.

A segunda etapa da versão “What If…” da DC foi mais planejada: a criação de um selo inteiro, independente de cronologia oficial, dedicado apenas a histórias com nossos velhos e conhecidos personagens, mas em ambiente completamente novos. O nome desse sele é “Elseworlds”, batizado originalmente no Brasil como “Túnel do Tempo” – o que não faz tanto sentido porque a maioria das histórias se passa no tempo em que vivemos, e não no passado ou no futuro.

A primeira HQ com o título “Elseworlds” foi o ótimo “Batman – Terror Sagrado” (acima), de 1991, que mostra um isolado Batman vivendo em um Estados Unidos transformado em uma ditadura teocrática. Uma assombrosa e ótima história de terror.

Depois de “Terror Sagrado”, literalmente dezenas de histórias foram publicadas no selo “Elseworlds”, com resultados desiguais. O selo fez tanto sucesso que até algumas publicadas antes de 1991 foram reeditadas com o selo “Elseworlds” – caso da também ótima “Gotham City 1889” (abaixo), que mostra um Batman surgindo no século 19 e enfrentando ninguém menos do que Jack, o Estripador.

Exemplos de “Elseworlds”:

  • O foguete com o último filho de Krypton cai na União Soviética e o Superman se torna um poderoso super-herói comunista;
  • Bruce Wayne se torna o maior herói da Terra: o Lanterna Verde;
  • A Mulher-Maravilha surge no século 19 e vai para a Inglaterra, em vez de para os Estados Unidos.

Alguns Elseworlds viraram longas de animação, com resultados desiguais – eu nunca gostei de algum que tenha assistido, mas não vi todos. Por outro lado, virou um crossover divertido do “Arrowverse” na TV, com direito a Oliver Queen como Flash e Barry Allen como Arqueiro Verde.

Mano a mano, eu diria que os “Elseworlds” da DC tiveram momentos melhores do que os da Marvel – por exemplo, os dois já citados aqui, “O Reino do Amanhã”, “Liga da Justiça – O Prego”…

Por outro lado, a Marvel foi demais ao criar uma série animada fechada, semanal e de alta qualidade, com o seu “What If…”. Será que um dia a DC anima de fazer sua versão animada de “Elseworlds”?

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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