Não adianta reprovar: o cinema tem seu mais novo Bruce Wayne e ele atende pelo nome de Robert Pattinson. Mais ainda: a despeito da infelicidade daqueles que ainda associam o ator inglês ao charme adolescente nada requintado da franquia “Crepúsculo”, ele parece pronto para entregar um Homem-Morcego memorável em seu primeiro filme. No teaser oficial de “Batman” (o título nacional para “The Batman”), Pattinson chama atenção com uma versão mais pé no chão e bastante violenta do Cruzado Encapuzado, rodeado por referências extraídas dos quadrinhos no que parece a introdução a uma história de investigação policial.

De acordo com o diretor da aventura (Matt Reeves, da trilogia mais recente de “O Planeta dos Macacos”), Batman pulará a já saturada história de origem do herói e mergulhará no segundo ano de operações do então vigilante em Gotham City. Aliado ao Jim Gordon vivido por Jeffrey Wright (ainda incerto se laureado como comissário de Polícia ou em posto inferior na hierarquia da corporação), o Homem-Morcego cruzará caminhos com Selina Kyle, Oswald Cobblepot, Edward Nashton (ou Nygma) e o que parecem ser bandidos inspirados pelo visual de um palhaço macabro. O quanto veremos das personas consolidadas de Mulher-Gato, Pinguim, Charada e Coringa, entretanto, permanece uma surpresa a ser revelada.

A trama, ainda segundo Reeves, beberá do cinema de detetives marcado pelo gênero Neo-Noir (com filmes como “Chinatown”, “Los Angeles: Cidade Proibida” e “Seven”), enfim retratando nas telas o Batman como “O Maior Detetive do Mundo”. Juntando todos elementos com o que vemos nos poucos mais de dois minutos deste primeiro teaser, ficam claras algumas inspirações tiradas direto de arcos memoráveis do Morcegão. Assista comigo e vamos dissecar o que vimos:

A prévia abre com um assassino montando uma cena do crime usando fita adesiva em sua vítima e deixando uma mensagem repassada ao Batman por Jim Gordon, a polícia de Gotham e o FBI. Trata-se de uma charada, o que nos leva a crer que o criminoso seja Edward Nygma (interpretado por Paul Dano). Esqueça o paletó verde com interrogações roxas, o visual do personagem em Batman parece muito mais com o de outro vilão dos quadrinhos: Silêncio. Apresentado em um arco homônimo escrito por Jeph Loeb e desenhado por Jim Lee, esse antagonista que esconde seu rosto com faixas protagoniza um embate repleto de mistério e fantasmas pessoais com o Cavaleiro das Trevas, na veia das promessas de Reeves para o filme. Mais do que isso, envolve de forma interessante o Charada. Será que teremos uma amálgama dessas referências nas telonas?

O Charada com carinha de Silêncio: nos quadrinhos, vilões têm forte ligação

Ainda na abertura, tente reparar no cartão que guarda a charada deixada pelo criminoso: trata-se de uma decoração de Halloween, com uma grande coruja em destaque. Se isso guarda implicações para a história do filme, não podemos afirmar, mas não é improvável que o diretor Matt Reeves tenha escolhido esse objeto em referência a outra história bastante pessoal de Bruce Wayne nos quadrinhos: A Corte das Corujas. A trama escrita por Scott Snyder e desenhada por Greg Capulo sobre uma sociedade secreta que há anos guia o destino de Gotham é uma das mais celebradas do século e, há anos, é especulada no cinema. Talvez o Charada seja apenas a porta de entrada em um inferno pessoal bastante elaborado para o Batman de Robert Pattinson.

Será que a Corte das Corujas está nos planos do diretor Matt Reeves?

A prévia, então, revela o visual do novo Homem-Morcego como uma mescla de elementos: há uma armadura tática, reminiscente da visão mais realista dos filmes dirigidos por Christopher Nolan; há um capuz de couro, com costura aparente, em uma roupagem séria da máscara bastante expressiva da série do Batman dos anos 1960; há uma capa com gola alta que remete imediatamente ao visual do Batman vitoriano de “Gotham 1889”, outra história de investigação criminal que imagina Bruce Wayne caçando Jack, o Estripador em pleno século 19. A ação domina o trailer a partir daí, revelando Oswald Cobblepot (Colin Farrell irreconhecível sob muita maquiagem) como um chefe de crime aparentemente bem tradicional e um encontro do Batman com Selina Kyle (Zoë Kravitz) que ecoa o primeiro embate entre os personagens em “Batman: Ano Um”, de Frank Miller e David Mazzucchelli.

Em Batman: Ano Um, um inexperiente Bruce Wayne também enfrenta Selina Kyle

O que também é destacado é a relação tumultuosa entre o Cavaleiro das Trevas e os policiais de Gotham City. Do momento em que Gordon entra na cena do crime com Batman atrás dele e todos viram olhando para o herói com desconfiança e medo, até a cena em que o Morcegão é prensado contra uma grade, em meio a dezenas de policiais, o clima parece ser tenso. Não será surpresa se o filme ecoar elementos vistos em histórias como “Batman: GCPD” ou” Gotham City Contra o Crime”, focadas no trabalho policial em uma cidade repleta de corrupção desigualdade e ocorrências sobre-humanas.

Amigo ou ameaça? A relação do Batman com a polícia de Gotham parece delicada

As referências ainda se estendem à animações, com a frase “eu sou a vingança” ecoando a mais longa “eu sou a vingança, eu sou a noite, eu sou o Batman”, de “Batman: A Série Animada”, e à música, com a a trilha sonora de “Something in the Way”, do Nirvana. Composta por Kurt Cobain, ela narra a vida de uma pessoa marginalizada, na rua, em meio à desolação do caos urbano. Juntos, são todos elementos que corroboram a ideia que Batman será um estudo de personagem de seu herói-título, mais intimista e enraizado em conceitos fundamentais que experimental. Talvez o que precisamos e merecemos, agora.

ps – Esta é a estreia da coluna Quadrinho Falado; acompanhe as próximas, semanalmente, aqui no Hábito de Quadrinhos

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