Já escrevi aqui no Hábito de Quadrinhos sobre minha admiração pelo trabalho do maltês Joe Sacco. Suas reportagens em quadrinhos, sempre sobre temas difíceis, resultam em livros densos, profundos e que nos incomodam. Como esta questão cresceu tanto? Será que um dia acharão solução? Não posso fazer nada a respeito? Nos sentimos indignados e impotentes. Por vezes, pequenos.

Sacco acaba de lançar, nos EUA, um novo livro-reportagem: “The Once and Future Riot” (em tradução livre, “A revolta passada de futura”). Trata-se de um olhar múltiplo sobre os conflitos entre muçulmanos e hindus na Índia, mas a partir de um recorte específico: o ano de 2013, quando houve um massacre local – mas a respeito do qual os dois lados divergem ao narrar como foi.

Ainda não li o novo livro. Mas os trabalhos anteriores dele seguem a mesma fórmula: dezenas de entrevistas, todos os lados da questão contemplados, extensa pesquisa histórica. Nunca espero simplicidade de seus quadrinhos, e, até hoje, nunca me decepcionei – e olha que coloco a expectativa lá em cima.

Não conheço a Índia pessoalmente. Até onde sei, é um país maravilhoso e complexo, culturalmente riquíssimo, mas cheio de problemas sociais. E sei também que meu conhecimento sobre este país continental é constrangedoramente pequeno. Eu apostaria minhas poucas patacas furadas que “The Once and Future Riot” me ensinará muito sobre a Índia – sendo, de quebra, mais um quadrinho inesquecível no currículo de Sacco.

Em entrevista concedida ao The Comics Journal em maio deste ano, Sacco disse que este seria sua última reportagem em quadrinhos voltada ser publicada em livro, deixando em aberta a possibilidade de criar trabalhos menores. Espero que ele mude de ideia.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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