Como estamos no período da Olimpíada, estou aproveitando meus textos para falar de quadrinhos sobre esportes. A modalidade de hoje não é olímpica, mas a HQ em si é tão bacana (e foi tão revolucionária quando publicada) que vale a pena entrar aqui.

Entre 1998 e 1999, o quadrinista (e teórico das HQs) Scott McCloud lançou o autobiográfico “My Obsession with Chess” (“Minha compulsão pelo xadrez”, em tradução livre). O ponto de partida é simples: trata-se de um depoimento de sua paixão pelo xadrez. Algo tão intenso que, por vezes, parece que ele está descrevendo um vício.

Aí, vamos para o termo “revolucionário” do título. Quantas vezes ao dia você e entrava na internet 23 anos atrás? Eu não acessava pelo celular e, mesmo em casa, não era o tempo todo. Longe disso, aliás.

Os webcomics (quadrinhos pensados originalmente para a internet) ainda não existiam como hoje, muito menos os webtoons (criados de olho num scroll infinito, às vezes com trilha sonora e pequenas animações). Nem existia tecnologia para isso. Se você tentasse carregar um site com muitas imagens, como fotos, demorava uma eternidade. Imagine uma página de HQ, cheia de imagens.

Os primeiros autoproclamados webcomics nada mais eram do que quadrinhos publicados em papel e depois scaneados. Os raros webcomics pensados diretamente para a internet, ainda no século 20, eram mais raros e experimentais. Queriam romper romper o limite da superfície de uma página impressa, explorando o rolamento vertical ou horizontal – mas não muito, pois o leitor teria de ter uma internet muito forte para curtir serm ficar travando.

Idem para a resolução das imagens. Se fossem muito detalhadas, ou publicadas com uma resolução altíssima, não seria tecnicamente possível para que a maior parte do público-alvo a acessasse.

McCloud sabia dessas limitações quando criou “My Obsession with Chess”. Ele extrapola as rolagens vertical e horizontal, e as imagens são pequenas e mais simples.

Além disso, ele teve uma boa sacada. Seu layout tem tudo a ver com o conteúdo da história: é um tabuleiro de xadrez. Até mesmo o sentido da leitura emula os movimentos das peças: às vezes você tem de ir na diagonal, como um bispo ou a dama, e às vezes “salta” como um cavalo.

A HQ, infelizmente, está em inglês. Mas acho que, mesmo para quem não fala a língua, vale clicar para ver como ele criou a história, com seu layout inovador.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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