Quando “Retalhos” saiu por aqui, no distante 2009, nós, leitores brasileiros fomos apresentados a um dos grandes quadrinistas contemporâneos: o norte americano Craig Thompson.

O autobiográfico “Retalhos” traz, em suas quase 600 páginas, uma narrativa brutalmente sincera da infância de Thompson. Tanto o texto quanto a arte são dignos de aplausos, mas o que ficou registrado em minha mente foi a força que ele teve para transmitir momentos traumáticos de sua vida. É preciso coragem. Essa força enorme, somada ao talento dele como quadrinista, nos rendeu uma graphic novel formidável.

“Retalhos” foi lançado em 2003 nos EUA, e o livro seguinte veio logo depois: o caderno de viagens “Carnet de Voyage” saiu no ano seguinte. E aí houve um hiato de sete anos até o próximo álbum, agora uma ficção: o tristíssimo “Habibi“, de 700 páginas, uma linda história de amor inspirada em “As Mil e uma Noites” e no Corão. Lembro que, na época, em entrevistas, ele citou seu perfeccionismo e sua atenção aos detalhes para explicar porque demorara tanto.

Esse tempo razoável de produção voltou a acontecer na produção da obra seguinte, e agora extrapolou um bocado. “Habibi” é de 2011, e a fantasia ambientada no futuro “Space Dumplins” saiu em 2015. Agora, dez anos depois, finalmente uma obra nova – e, de quebra, um retorno à não-ficção: “Ginseng Roots – A Memoir” (em tradução livre, “Raízes de Ginseng – Uma Memória”).

Em suas 450 páginas, “Ginseng Roots” mostra Craig e seus irmãos, ainda jovens, trablhando em fazendas de ginseng no Wisconsin, EUA. Diz a sinopse da editora americana: “Em seu característico trabalho de tinta e caneta de tirar o fôlego, Craig entrelaça essa juventude perdida com a história de 300 anos do comércio global de ginseng e as muitas vidas que ele uniu — desde caçadores de ginseng na China antiga, passando por agricultores industriais e colhedores migrantes no meio-oeste americano, até sua própria família, que ainda luta com as consequências de um passado amargo.”

Não vi se “Ginseng Roots” está previsto para sair por aqui. Mas, fã que sou de “Retalhos” e “Habibi”, sei que sonhar é grátis. Aliás, como “Space Dumplins” e “Carnet de Voyage” também são inéditos, meu sonho vale por três.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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