Os quadrinhos nos brindam, de vez em quando, com “crossovers”, quando personagens de universos diferentes (por exemplo, editoras diferentes) se encontram. Alguns deles são inusitados, como o do anti-herói Justiceiro e o inocente Archie, a Liga da Justiça com a Turma da Mônica e a luta de boxe entre Superman e Muhammad Ali.

(Aliás, o primeiro crossover entre a Marvel e a DC foi feito por baixo dos panos, com os autores combinando entre si e não avisando as editoras.)

Mas nenhum crossover é, para mim, tão inusitado quanto este, anunciado há 36 anos, e que permanece inédito por enquanto: Monstro do Pântano e Jesus Cristo.

O Monstro do Pântano é um personagem oriundo das histórias de terror da DC Comics, que acabou migrando para suas aventuras de super-heróis e contracenou com personagens como Batman e Superman. Aliás, o Monstro do Pântano chegou a fazer parte da Liga da Justiça.

Jesus Cristo é Jesus Cristo.

Enfim, houve um tempo em que a revista mensal do Monstro do Pântano saia no selo Vertigo da DC Comics – ou seja, suas histórias eram voltadas para o público adulto. Isso aconteceu principalmente por causa da fantástica fase escrita por Alan Moore, que transformou o personagem em uma espécie de “elemental” da Terra, uma criatura com poderes divinos ligada ao planeta por meio de sua vegetação. O corpo habitado pela mente do Monstro do Pântano tinha zero de humano e 100% de vegetal – podia ser composto de flores, árvores ou o que ele quisesse. Inclusive, ele podia montar corpos instantaneamente e “migrar” de um corpo para o outro em menos de um segundo.

As histórias ficaram incríveis e os únicos limites passaram a ser a imaginação dos escritores. Ou quase isso.

O roteirista Rick Veitch escreveu uma longa e ótima fase do personagem em 1989. O número 87 da revista saiu em junho e o seguinte, claro, deveria sair em julho, com o início de uma saga em quatro capítulo em que Veitch colocaria o Monstro do Pântano viajando no tempo. Mas a edição 88 saiu três meses depois, sem esta história e, como consequência, sem Veitch, que saiu do título.

Tentando resumir: na tal história, Monstro do Pântano viajaria no tempo para o período em que Jesus viveria. A imagem que provavelmente seria a capa (ilustrada pelo próprio Veitch, aliás), e que abre texto, dá a entender que parte da madeira que compõe o Monstro do Pântano teria sido usada na cruz usada para a morte de Jesus Cristo. Imagina se não ia dar polêmica.

O roteiro foi completamente escrito (um trecho dele está acima) e a história por Veitch, toda desenhada por Michael Zulli (abaixo, uma ilustração da história, ainda sem a arte-final). Mas não foi publicada. Alguém na chefia da DC optou por não publicar. Talvez por não ter gostado da história, talvez por não ter gostado do tema. Não sei.

O fato é que, como vi no The Beat, a DC anunciou há duas semanas que finalmente vai publicar a história completa. A série sairá em quatro capítulos a partir de abril do ano que vem, com o título de “Swamp Thing 1989” (em tradução livre, “Monstro do Pântano 1989”). Aí, veremos, finalmente, o que levou a tamanha reviravolta.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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