Gosto muito da definição que o argentino Quino deu sobre a sua compatriota Maitena: “ela não pretende ser um ‘espelho que reflita a realidade’. Ao contrário: ela agarra a realidade, com espelho e tudo, e a atira em nossa cabeça”. O superpremiado norte-americano Daniel Clowes é mais ou menos isso. Só que depois de jogar o espelho na sua cabeça, ele vai jogar o pente, a escova de dentes, o fio dental, a penteadeira é até você mesmo contra a sua cabeça. Imagine a cena.

Pensei nisso lendo a coletânea “O Melhor do Século 20: Eightball“, que reúne mais de cem páginas de Daniel Clowes e foi lançada mês passado pela Tábula Editora. O humor de Clowes é carregado de veneno, ódio e mágoa, destrutivo e autodestrutivo… E engraçado, se você conseguir escapar de tanta pancadaria (e até se for atingido).

Mencionei no primeiro parágrafo que ele era muito premiado. O Eisner Awards, o Oscar americano dos quadrinhos, ele já venceu em seis ocasiões: duas como melhor escritor/artista de drama (2000 e 2002), duas de melhor edição única (2002 e 2005), uma de melhor história curta (2008) e uma de melhor graphic novel inédita (em 2011, por “Wilson”). Em janeiro deste ano, seu quadrinho “Monica” foi eleito álbum do ano no prestigioso Festival de Angoulême, na França.

Várias ofensa do Clowes me atingiram – talvez sobre alguma para você também. Prepare-se.

Abaixo, a sinopse da editora:

“Comemorando o primeiro ano de existência da editora Tábula, com 100 páginas é inédito no Brasil, sob o selo UN$PILA, é lançada a HQ “ O MELHOR DO SÉCULO XX: EIGHTBALL” de Daniel Clowes. Trata-se de um dos autores mais premiados da indústria dos quadrinhos. No Brasil já foi publicado pelas editoras Nemo, Skript e Quadrinhos na Cia. Além de sua extensa publicação e famosas ilustrações, de capas de discos a capas de revistas como da New Yorker, foram mais de 25 prêmios, entre Harvey, Eisner, Ignatz e, recentemente, o Angoulême. Por Ghost World, foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2002. Agora, o público brasileiro terá uma nova HQ do autor, porém, pela Tábula custando apenas ALGUNS PILAS!! A edição contém as melhores histórias curtas produzidas por Daniel Clowes no século XX, escritas e desenhada entre 1988 e 1996. A coletânea com 100 páginas (sendo 40 coloridas) foi publicada originalmente em 2002 pela Fantagraphics.”

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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