Quando eu era adolescente, para ler HQs nacionais, Disney ou de super-heróis, bastava ir às bancas. Já para ler quadrinhos europeus (BDs) era preciso ter um pouco mais de dinheiro… ou sorte. Afinal, as edições saiam em formato de livro e eram encontradas quase que somente em livrarias – eu aproveitava qualquer oportunidade para ir na Laselva do aeroporto de Guarulhos, que me parecia a melhor.

Isso foi beeem antes de livrarias online, jovens.

Eu não tinha dinheiro para comprar BDs, mas tive sorte. Meus pais gostavam de quadrinhos europeus, e cresci em uma casa com Tintim, AStérix, Lucky Luke e… os Túnicas Azuis!

Você não conhece os Túnicas Azuis? Faz sentido. Não tiveram muitas chances por aqui. Até onde eu sei (ou seja, até onde o ótimo site Guia dos Quadrinhos me mostrou), estes divertidos personagens foram publicados apenas entre 1983 e 1986: dez edições, todas pela Martins Fontes.

As histórias dos Túnicas Azuis nos trazem divertidas aventuras de soldados norte-americanos no século 19 – particularmente do sargento Chesterfield, um bronco de coração bom (ainda que escondido) e do cabo Blutch, um fanfarrão. Se você não conhece, recomendo. A amizade (escondida entre ofensas e irritações) dos protagonistas, as divertidas tramas no Velho Oeste americano e o humor ora sutil, ora espalhafatoso me cativaram.

Os Túnicas foram criados pelos belgas Raoul Cauvin (1938-2021) e Louis Salvérius (1933-72), roteirista e ilustrador, respectivamente. Eles foram criados em 1968, quatro anos antes da morte de Salvérius – ou seja, há apenas quatro álbuns da dupla original, todos publicados por aqui.

Aliás, a publicação por aqui é o que me levou a escrever este texto. Saíram 10 álbuns dos Túnicas no Brasil, de um total de… 68! São histórias engraçadas, com uma boa mistura de humor com aventura… Será que os 58 (!) álbuns restantes não teriam público no Brasil? Seria eu o único saudosista?

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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