Eu torço o nariz quando leio a palavra “genial” em algum lugar. Acho que ficou banalizada. Machado de Assis foi genial. Pelé, em campo, foi genial. E mesmo assim, no título deste texto, chamei o artista japonês Hokusai (1760-1849) de genial.

Hokusai foi genial.

Vamos esquecer o lado excêntrico dele – mudou de nome mais de 30 vezes (!) em vida, e trocava tanto de casa que uma vez mudou de endereço duas vezes no mesmo dia.

Vou dar cinco exemplos curtos do talento de Hokusai como artista:

  • Foi um pintor fabuloso, que influenciou dois enormes movimentos artísticos europeus: o impressionismo e o Art Nouveau;
  • Um dia, para mostrar o quanto sua técnica era apurada, criou uma pintura tão gigantesca que só podia ser vista do alto de um monte, bem longe de onde estava (!!). No mesmo dia, fez uma pintura em um grão de arroz (!!!). Quis mostrar que era fera de proporções, tanto no macro quanto no micro
  • Criou a série de xilogravuras Trinta e Seis Visões do Monte Fuji, e uma dessas obras é, hoje, uma das obras mais reproduzidas do mundo: A Grande Onda de Kanagawa (que você vê logo acima). Pode checar, virou emoji aí no seu celular;
  • Como era um mestre, criou um guia de esboços para ensinar os artistas como se ilustra. O livro fez tanto sucesso que veio o volume dois. E mais uma sequência. E outra, e outra, e outra… No total, foram 15!;
  • Sabe como chamavam esses livros de esboços do Hokusai? “Mangá”. Sim, a palavra que hoje é sinônimo de quadrinhos japoneses chegou a esse significado por causa da obra de Hokusai.

A vida de Hokusai, claro, virou mangá. O ótimo Shotaro Ishinomori (1938-98), criador de Kamen Rider, escreveu e ilustrou uma série em três volumes que conta a vida de Hokusai. E a Pipoca & Nanquim vai lançar, ainda neste semestre, uma edição única contendo os três números, batizada de “Hokusai”.

O meu humilde resuminho aqui, obviamente, não faz jus à vida de Hokusai. Mas o “genial” lá do título sintetiza sua carreira artística.

ps – este texto faz parte de uma série de cinco posts sobre lançamentos de quadrinhos em 2021. Para cada dia da semana, escolhi destacar uma obra de um gênero diferente: super-herói na segunda, banda desenhada europeia na terça, comix americano na quarta, mangá na quinta e HQ brasileira na sexta.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

Quer falar comigo, mas não pelos comentários do post? OK! Meu e-mail é pedrocirne@gmail.com

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