Tudo era possível na Era de Ouro dos Quadrinhos norte-americanos. A criatividade não tinha limites. Havia o caminho mais fácil –  quantos heróis você conhece que são plágios do Batman, por exemplo?

E há o caminho de “temos uma mitologia e tanto aqui, vamos expandi-la!”. E, assim, a DC Comics começou a criar os aprendizes “internacionais” do Batman. Ou seja, heróis não-americanos que, inspirados por ele, combatiam o crime em seus respectivos países.

Os primeiros, vamos ser sinceros, não passavam de esteriótipos. O da França se chamava Mosqueteiro e usava o uniforme eternizado no maravilhoso romance de Alexandre Dumas. O italiano parecia saído de uma arena na Roma Antiga – e se chamava Legionário.

Mesmo assim, eram divertidos. E se uniram em um grupo de super-heróis – até o nome da equipe reflete a inocência da Era de Ouro: o Clube dos Heróis!

Isso foi em 1957. Mais de cinco décadas depois, já no século 21, o sempre criativo roteirista Grant Morrison resolveu expandir o conceito. Sim, houve um Clube dos Heróis no passado – a maior parte desses heróis se aposentou ou já tem indicou sucessores.

Mas Morrison foi além: criou a Corporação Batman, que inclui alguns desses heróis e outros novos, em um movimento completamente diferente. Trata-se de uma organização inspirada pelo Batman, mas financeiramente bancada por Bruce Wayne (ah, vá!).

Pesquei alguns dos mais interessantes membros dos “Batmen de todos os países” (o nome da história original) e os listei aqui. Divirta-se.

INGLATERRA
Os primeiros “Batman e Robin” estrangeiros! Na versão original, Cavaleiro e Escudeiro (Knight e Squire) são o Batman e Robin do Reino Unido. Na Corporação Batman, Grant Morrison deu continuidade ao legado: Cyril Hutchinson, o Escudeiro original, é o atual Cavaleiro, e sua filha Beryl, a Escudeira, é uma hacker ainda melhor que Tim Drake.

OCEANIA
O australiano Ranger foi membro do Clube dos Heróis original. Seu sucessor, Johnny Riley, surgiu na fase da Corporação Batman e assumiu um nome diferente: Ranger Sombrio.

AMÉRICA DO SUL
Fiquei surpreso quando vi que havia um “Batman” chamado Gaúcho. Mais ainda quando descobri que era argentino. Afinal, gaúcho é quem é da região dos pampas, que passa por Brasil, Argentina e Uruguai.
O Gaúcho que hoje é aliado do Batman é o mesmo que lutou ao seu lado no Clube dos Heróis: Santiago Vargas está mais experiente, mas continua charmoso, arrogante e divertido.

ÁFRICA
Não havia um africano nem um asiático no Clube dos Heróis. Na nova geração, o Congo foi brindado com Batwing, um personagem bem interessante, que chegou a ter sua própria revista mensal: David Zavimbi. Suas histórias eram todas ambientadas na África, assim como seus aliados e rivais eram africanos.
Em uma decisão editorial que me parece equivocada, a DC passou o manto de Batwing para Lucas Fox, norte-americano de Gotham City – e amigo de Bruce Wayne. Tirou todo o lado africano do personagem. Virou um vigilante como outro qualquer.

ÁSIA
O membro mais proeminente da Corporação Batman na Ásia é uma personagem que já existia: Morcego Negro, que foi a terceira Batgirl. Sua colocação na Ásia faz sentido: Cassandra Cain é tibetana e atuava em Hong Kong.
Morcego Negro perdeu importância no Universo DC e hoje atende pelo nome de Órfã.

ITÁLIA
O Legionário está morto. Longa vida ao Legionário! No caso, à Legionária: Pippi Giovanni é filha de Alphonso, o Legionário original, e uma personagem bacana para dar continuidade à sua história.

CHINA
Esse Batman – que se chama Bat-Man – não tem ligação direta com o Clube dos Heróis ou a Corporação Batman, mas é tão bacana que vou contar um pouco sobre ele. Wang Baixi surgiu nas histórias do Super-Man da China. Suas histórias são totalmente ambientadas na China e aproveitam a rica cultura do país – seu criador, Gene Luen Yang, é sino-americano.
O Bat-Man da China é fora de forma (me identifiquei com essa parte) e um gênio intelectual (infelizmente, não me identifiquei com essa) e membro ativo da Liga da Justiça da China.


FRANÇA
Jean-Marie foi o Mosqueteiro, membro do Clube dos Heróis que se vestia como os soldados da guarda de elite francesa dos séculos 17 e 18. Aposentado e rico, uma vez que sua autobiografia é um sucesso, foi sucedido por aquele que considero o mais bacana dos “Batmen internacionais”: o Acrobata Noturno.

Bilal Asselah, o Acrobata Noturno, é negro, islâmico e tem origem argelina. Mais legal do que isso: sua criação gerou uma “revolta” no mundo real. Não sei o tamanho do movimento, mas racistas franceses protestaram contra a DC Comics ter colocado um “Batman” negro, islâmico e com origem argelina. Sim, ainda existem racistas no mundo. Ponto para a DC Comics.

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Escrito por

Pedro Cirne

Meu nome é Pedro, nasci em 1977 em São Paulo e sou escritor e jornalista - trabalho no Estadão e escrevo sobre quadrinhos na TV Cultura.
Lancei dois livros: o primeiro foi "Púrpura" (Editora do Sesi-SP, 2016), graphic novel que eu escrevi e que contou com ilustrações 18 artistas dos oito países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. Este álbum contemplado pelo Bolsa Criar Lusofonia, concedido a cada dois anos pelo Centro Nacional de Cultura de Portugal.
Meu segundo livro foi o romance "Venha Me Ver Enquanto Estou Viva”, contemplado pelo Proac-SP em 2017 e lançado pela Editora do Sesi-SP em dezembro de 2018.
Como jornalista, trabalhei na "Folha de S.Paulo" de 1996 a 2000 e no UOL de 2000 a 2019.

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